A informação que a seguir se transcreve foi retirada da Monografia sobre São Simão do Sr. Joaquim de
Oliveira. Seria um acréscimo à cultura desta região se esta monografia vissem a sua publicação tornada realidade.
De Quinta de João Martins
a Vila Fresca
Sabe-se, por documentação antiquíssima, que antes de
existir a povoação, hoje denominada Vila Fresca de Azeitão, o local, já
povoado, essencialmente pelos criados e escravos da quinta chamada de João
Martins Palhavã, a qual, a determinado tempo, passou a chamar-se "Quinta da
Bacalhoa" .
Entretanto, quintas idênticas iam-se desenvolvendo paralelamente ao redor de
Vila Fresca, constituindo cada uma delas o seu próprio núcleo populacional
rústico, podendo-se - graças a trabalhos de pesquisa do Padre Manuel Frango de
Sousa - estabelecer a respectiva organização fundiária, na seguinte forma :
Por
volta de 1390 os sítios à volta de Vila Fresca estavam divididos em três partes,
que cada uma ia da serra à charneca ou da charneca à serra, consoante o local em
que nos situarmos.
A Nascente estavam as terras da Capela de Martinho Pires Palhavã ; a meio
estavam as terras da Coroa real, e a poente estavam as terras de Afonso Martins
Palhavã e as terras de Afonso Anes Nogueira.
As terras da Casa Real tinham sido também da família Palhavã, na pessoa de
Sancha Pires Palhavã.
Andava por aí também um pequeno proprietário : Diogo Feyo, da família dos Feyos
de Setúbal e de Palmela. (Ainda há pouco tempo umas terras por baixo das Vendas
se chamavam o "vale de João Feio) .
A Nascente - A Capela dos Palhavãs
Ao Centro - A Casa Real
A Poente - As terras de Nuno Martins da Silveira
A
seguir vamos ver um pouco de história de cada uma destas três partes :
ZONA ORIENTAL
"Em 1306 tinham falecido já Dom Martinho Pires Palhavã, sua mulher, Dona Maria
Soares, e a filha única de ambos, Dona Teresa.
Os bens deles tinham ficado, por doação, para uns parentes, João Martins Palhavã
e sua mulher, Dona Sancha Pires de Palhavã. Estes, na data supra (1306), fizeram
uma "Capela" (ou seja uma fundação) com os bens que os ditos Martinho, mulher e
filha lhes tinham deixado. Essa fundação destinava-se a garantir os ofícios
religiosos por alma de todos eles. Os bens situavam-se em Setúbal, Palmela e
Azeitão
Em Azeitão os bens eram uma quinta que confrontava pelo norte com caminho ; pelo
poente com quinta da Coroa ; pelo nascente com quinta que veio a ser de Gonçalo
Anes Sampaio ; e pelo sul, com a serra, e mais terras a norte desta quinta.
Em 1502 esta fundação era governada por um tal Brás Gonçalves Palhavã que era
vedor da Igreja de São Lourenço de Azeitão.
Algumas destas terras ainda hoje se chamam Palhavã .
ZONA CENTRAL
Por volta de 1330 Dona Sancha de Palhavã, já viúva de João Martins Palhavã (os
mesmos da página anterior) vendeu o "lugar de Azeitão" a um Pedro Afonso Mealha.
Este Mealha, morava em Almada, onde tinha uma grande quinta e era pessoa de
poderes económicos e políticos. Quando desempenhava a função de Tesoureiro do
Rei Dom Fernando, o Mealha fez desfalque e por isso foi preso. Protestou a sua
inocência o que não impediu que morresse na prisão e que seus bens fossem
nacionalizados. Assim, desta forma, o "lugar de Azeitão" foi parar à Coroa.
O Rei Dom João I, de posse destes bens, ajuntou-lhes a quinta de Diogo Feyo,
que comprou, e o Príncipe Dom João, filho de Dom João I, ajuntou-lhe a quinta de
Afonso Anes Nogueira (ou Afonso Anes das Leis).
(Este Afonso Nogueira, era sobrinho de Lourenço Dinis Nogueira que fez a Igreja
de São Lourenço de Azeitão)
Assim, passou a ser constituída a QUINTA, que mais tarde, e até hoje, se chama
"Quinta da Bacalhoa" .
ZONA OCIDENTAL
"... Em 1413 Nuno Martins da Silveira aforou, em foro perpétuo, uma quinta em
Azeitão, que era de Afonso Martins Palhavã.
Em 1436 tinham já falecido o dito Afonso Palhavã e mulher, Constança Anes e não
apareciam herdeiros apesar das diligências feitas para os encontrar .
O Rei Dom Duarte tomou os bens para a Coroa e em seguida ofereceu-os ao dito
Nuno Martins da Silveira que tinha sido seu aio.
De Nuno Martins Silveira, são seus descendentes os Melos, Condes da Ponte e
monteiro-mor, os Césares de Menezes, os Lobos da Silveira, senhores de Sarzedas,
os Condes de São Lourenço, os Condes de Santiago, etc, e muitos outros que
andaram por aqui, por Azeitão.
Nuno Martins da Silveira teve uma contenda com os frades de São Domingos de
Azeitão e essa contenda fez vir a Azeitão o Rei Dom Duarte que resolveu o
assunto a contendo dos frades.
Nos começos do século XVIII, era dono da Quinta um Luís César de Menezes e foi
ele que a baptizou com o nome que ainda hoje tem, ou seja, "Quinta do César" .
Luís César de Menezes, foi
alcaide-mor de Alenquer, Alferes-mor do Reino, Governador do Rio de Janeiro,
capitão General de Angola e Baía e Comendador da Comenda de São João de Rio
Frio. É em razão deste último título que uma quinta em Vila Fresca se chama de
"Rio Frio" .
"In, "Azeitão , A Nossa Terra"
nº. 36 de 27 de Outubro de 1991
"(...) Como se verifica esta tripartida divisão territorial só refere o tecido
rústico, não havendo referências ao urbano, embora que, já tivesse estabelecido
ao redor de cada uma das quintas um núcleo populacional constituído pelos
trabalhadores e escravos que trabalhavam para os respectivos proprietários e
foreiros.
De um desses núcleos nasceu Vila Fresca, e
daqui se partiu para o que é hoje a Freguesia de São Simão.