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O
lago ou espelho de água da Quinta da Bacalhoa continua a ser abastecido
directamente pela nascente do Rio de São Simão, todavia, tem caudal auxiliar
vindo de furo artesiano, próprio da quinta. O tanque, é espelho de água das
famosas “casas de prazer” ou “casas de fresco” da Quinta da Bacalhoa, sobre
as quais não compete aqui pormenorizar. Diremos apenas que, o cenário do
reflexo das arcadas, na água, é espectacular!
A respeito deste cenário , J.
Nunes Ribeiro disse “(...) Tudo ali é nítido, amável, repousante.
Procurando uma imagem plástica susceptível de sintetizar a impressão visual
que esta paisagem nos provoca, ocorre-nos esta : Uma grande folha de alface
orvalhada, sob um sol matinal de primavera ...”
Quanto ao lago, propriamente
dito, transcrevemos um excerto da já citada “tombação” da quinta, cuja
descrição continua actual:
“(...) Tem (a Quinta) do nascente, ou
jardim, atrás declarado, até ao tanque de agua por uma rua cercada de
azulejos e alegretes e ladrilhada de largura de mais de tres varas, oitenta
e quatro varas e n'este canto, que o dito pomar faz para o poente, está
um tanque de agua ladrilhado por baixo, que cobre um homem, cercado de
pedraria e de azulejo, feito em fórma quadrada; tem vinte e nove varas de
canto a canto e fazem em circuito cento e dezasseis, do qual se rega todo o
pomar atrás declarado com agua do rio de S. Simão, de que lhe pertence toda
a dita agua quatro dias naturais e tres horas cada nove dias.
«Tem o dito tanque, na cabeceira
pela parte do sul, cinco casas de prazer armadas com columnas de jaspe e
forradas todas de azulejo e os tectos pintados em estuque com varias
historias e figuras, e ao lado das ditas casas de prazer, para a parte do
nascente, tem um jardim com seus alegretes na distancia e largura das mesmas
casas ...
«E a agua que cáe para o dito
tanque, cáe pela boca de uma baleia artificiosa com um Tritão em cima, que
formoseia muito o dito tanque e casas de prazer, e com figuras varias em
nichos, feitos de pedraria pelas paredes do dito tanque.
Pormenorizando um pouco mais,
diremos que a “Casa de Fresco”, - um pouco no espírito de “loggia”
- compõe-se de um longo pórtico de arcadas ponteado por três torres
terminadas em pirâmide, (conhecidas, localmente, por casas da pena)
formando três pavilhões ligados entre si por galerias. Pavilhões e galerias
abrem-se para o Lago, os primeiros por portas, os segundos por uma arcada de
cinco vãos. Particularmente belas são as portas em correnteza, que resultam
muito esculturais com suas largas ombreiras quinhentistas, arredondadas, e
as suas cornijas sobrepostas por nichos, (agora ausentes de estatuetas
alusivas às “virtudes”, cujas legendas ainda persistem. Este tipo de
pavilhão, muito renascentista, bem depressa viria a constituir uma
componente essencial das grandes casas portuguesas, podendo inscrever-se
também na tradição dos jardins árabes, com seu tanque de irrigação e a sua
decoração de azulejos.
O segmento de muro sobranceiro ao tanque
pelo lado do Poente recebeu numa extensão de 30 metros tratamento muito
especial, na intenção de lhe aumentar o seu efeito decorativo. Nele estão
abertos três nichos, onde na primitiva estiveram outras tantas estatuetas, e
alternando com estes nichos figuravam no muro quatro medalhões com bustos em
alto relevo no estilo dos de Della Robia.
Para se falar dos azulejos da
“Casa de Fresco” e dos da antecâmara que a antecede, seria necessário um
capítulo inteiro, motivo pelo qual somente nomearemos os painéis: “O
rapto de Hipodémia” ; “Susana surpreendida no banho pelos Velhos”
; “Alegoria ao Rio Tejo” ; “Armas dos Albuquerques” . São
famosos, ainda, os tapetes parietais em azulejo hispano - árabes, relevados
e lisos, do século XVI.
Este cenário tem sido largamente aproveitado
para fotografia e filmagem de moda internacional. Foi acontecimento de um
concerto de música erudita, realizado num estrado montado no centro do lago.
O concerto em si e os efeitos de luz artificial reflectindo-se toda a cena
no lago, foram deslumbrantes e inesquecíveis para quem teve o privilégio de
assistir.