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[ Artigo por Rita Jardim - Grande Reportagem
]
A Quinta da Bacalhoa, obra magnífica e rara,
«nunca teve nome próprio e foi sempre designada pelo local onde estava situada ou pelo de seus donos;
chamou-se Quinta do Bacalhau por ter pertencido a D. Jerónimo Manuel, o Bacalhau, que nela faleceu em 1602. Em 1730 ainda se encontra assim nomeada, mas depois, sob a administração de D. Francisca de Noronha, passou a ser conhecida por Quinta da Bacalhoa.»
Para uns, o que parece pouco admissível, pois a alcunha já existia no tempo do pai. D. Jerónimo Manuel adquiriu-a depois de uma viagem à índia onde os capitães sofreram grandes provações para salvarem a tripulação, atacada de escorbuto, e ficando só com o bacalhau, considerado nessa época nocivo à saúde; para outros, aquele sobrenome é menos honroso e a designação da quinta deriva, simplesmente, do facto de aquele ramo da família haver sido negociante de bacalhau, na Casa dos Bicos, em Lisboa, que pertencia à família Albuquerque.
A história dos senhores desta quinta e uma análise pormenorizada da sua valiosa colecção de azulejos foram já motivo de estudos de Joaquim Rasteiro, Reinaldo dos Santos e Santos Simões. Procurar-se-á recordar os seus aspectos mais importantes e chamar a atenção para outros acontecimentos que estão, também, relacionados com a história da propriedade.
No tempo de D. João I o seu monteiro-mor, João Vicente, tinha emprazado em três pessoas a «Quinta de Azeitão em Ribatejo». Uma parte da propriedade era foreira à Coroa e a restante a Diogo Fêo. Em virtude de João Vicente estar velho, cego e pobre, o rei comprou o domínio directo da quinta a Diogo Fêo e permitiu que se emprazasse, em 1427, a seu filho D. João, mestre da Ordem de Sant'Iago e Condestável do Reino, a quem, mais tarde, seu irmão, o rei D. Duarte, fez doação. Por sua morte, em 1442, sucedeu-lhe na posse sua filha D. Brites, que veio a casar em 1447 com o infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V. A quinta, lembrança da nova possuidora - que a usufruiu 64 anos, desde 1442 até à sua morte, em 1506 - tornou-se conhecida por «Quinta da Condestablessa» e passou a dispôr, desde essa data, de uma edificação notável, que, segundo se crê, constava de uma cerca torreada e de um revestimento de azulejo do modelo levantino, de que existem ainda numa das dependências da edificação alguns exemplares, pertencentes aos tipos rajolas que se fabricaram em Valência na segunda metade do século XV. Deve recordar-se ainda que «D. Brites por si, pela casa de seu pai, pelos bens do seu marido, pela generosidade do seu cunhado D. Afonso V e de seu genro D. João II viveu com um fausto e uma grandeza só excedidas pelas prodigalidades do próprio marido cujos hábitos imitou». O filho de ambos, D. Manuel, depois rei, mostrou bem que a «emente frutificara e encheu o reino com as maravilhas da arte e os esplendores das indústrias decorativas».
Este monarca não esqueceu também a Quinta de Azeitão, propriedade de sua mãe, conferindo-lhe, em 20 de Julho de 1490, uma carta de privilégios que compreendia os caseiros, lavradores, arrendadores dos bens, lagareiro, mordomo e escrivão que estivessem na quinta, a qual dirigiu aos juizes e justiças da comarca de Azeitão e ao ouvidor.
A quinta passou mais tarde para uma bisneta da Condestablessa, D. Brites Lara, que casou em 1519 com o Marquês de Vila Real. Em 1521 a nova proprietária começou a desmembrar as extensas propriedades que possuía na região e, em 1528, acabou por vender a própria Quinta de Azeitão a Brás de Albuquerque, filho natural do grande Vice-Rei da índia, Afonso de Albuquerque, pela avultada quantia de dez mil cruzados de ouro.
O novo proprietário da Quinta de Azeitão foi perfilhado quando tinha 5 anos. Estudou sob a protecção de D. Manuel I no Convento de Santo Elói, em Lisboa, onde adquiriu uma boa formação clássica» e, por morte do pai, ainda por determinação régia, passou a chamar-se Afonso de Albuquerque e a beneficiar de uma tença de 300 000 réis e herdade. Casou em 1520 com D. Maria de Noronha, filha do Conde de Linhares, foi a Sabóia em 1521 integrado na esquadra que conduziu à Itália a infanta D. Beatriz, futura Duquesa de Sabóia, e posteriormente ocupou os importantes cargos de membro do Conselho Régio, de Provedor da Misericórdia e, em 1572, ainda o de Presidente do Senado da Capital
Durante a ida à Itália a armada fundeou em Vila Franca de Niza e enquanto se preparava a entrada triunfal da jovem duquesa, os fidalgos que faziam parte do séquito tiveram oportunidade de percorrer algumas cidades italianas, que nessa época se encontravam no auge da sua fama e grandeza artística. o filho do grande Afonso de Albuquerque trouxe, provavelmente, dessa excursão pela Itália, o gosto da arte e a imagem ideal da sua futura quinta. Este facto explica, muito provavelmente, o tipo de edificação da sua Casa dos Bicos, em Lisboa, reflexo da de Ferrara, e a reconstrução e ampliação do Palácio de Azeitão, cujo estilo se integra no do período da Renascença em Itália. É, no entanto, de admitir que tenha adaptado as suas novas ideias aos aspectos da antiga edificação, em especial às torres circulares de cobertura lobulada, que lhe conferem um certo sabor manuelino. A obra terminou em 1554, como mostra a inscrição no friso da porta que dá acesso, do lado norte, ao pátio do palácio, correspondendo, muito prova
velmente, a parte renascentista da construção ao período de 1530 a 1550.
A descrição mais antiga desta quinta, posterior à sua aquisição por Afonso de Albuquerque filho, de que temos conhecimento, data da época da elaboração do tombo do morgadio, mandado fazer por D. Jorge Manuel e autorizado por alvará de 31 de Maio de 1631:
«Umas casas muito grandes e muito nobres, edificadas com muito primor, com varandas de todas as partes e casas e muitas salas, camaras recamaras, postas de parte do norte e do levante, ficando a quinta e pomar com seus jardins da parte sul e poente. Tem mais estas casas cubellos nos três cantos que se fazem para fora contra o norte, dois ao norte e um ao sul com que ficam realçados e lustrosas e na entrada que está em um pateo muito grande e com os seus portais, cerrado de muro, em que se correram e podem correr touros, está uma escada toda de pedraria com uma volta, toda com seus balaustres de mármore, que forma a entrada da primeira sala. Tem mais duas varandas com seus arcos de jaspe e columnas do mesmo, uma parte para a banda poente e outra para o norte com as suas grades de ferro até ao meio, com seus azulejos até meio das paredes.
Há um pateo defronte das ditas casas cercado de muro com dois meios cubellos, com duas portas por que se entra e sae à estrada publica. Na parte nascente tem uma varanda de colunas de jaspe, que serve entre as casas terreas e gasalhados de creados e tem um chafariz de agua e uma parede de banda norte.»
Possui também «jardim e um pomar contíguo às casas e jardim, que lhe ficam para a parte levante» no jardim, há «um tanque com 29 varas de canto a canto do qual se rega o pomar o qual é alimentado com a agua do rio de S. Simão de que lhe pertence toda a dita agua quatro dias naturais e três horas cada nove dias. Tem o dito tanque na cabeceira, pela parte sul, cinco casas de prazer armadas com colunas de jaspe e forradas todas de
azulejos. A água que cai para o dito, sai pela boca de uma baleia artificiosa, com um tritão em cima, que formoseia muito o dito tanque e as casas de prazer, e com figuras várias em nichos.
O pomar tem duas ruas «cercadas de alegretes e ladrilhos. «Numa das ruas há uma casa quadrada com quatro janelas, em que estão pintadas as histórias da índia» e «uma outra casa, a que se chama casa dos pombos, com um bufete de jaspe a meio».
A quinta incluía uma vinha, casas de criados, lagares de azeite e vinho, estrebaria e cocheiras. Além dos primorosos azulejos que a ornamentam, é de assinalar que a propriedade tinha pirâmides e esferas armilares coroando os seus muros, nos quais, de espaço a espaço, se encontravam incrustados medalhões, tendo ao centro bustos de imperadores romanos e guerreiros célebres e cercaduras de folhagem, flores e frutos.
Conhece-se, ainda, através de observações feitas no último quartel do século passado, que a porta de saída do pátio, para o lado norte, era encimada pelo brasão dos Albuquerques e que sobre a porta de entrada do solar existiu um edículo com o busto de barro de Albuquerque filho.
Joaquim Rasteiro afirmou que «quem atentamente observar o palácio e a Quinta da Bacalhoa e os vir minuciosamente encontrará nas edificações três idades e influencias das épocas. Duas casas com abobadas ogivais, restos do tempo de João Vicente ou do príncipe D. João, mestre de Santiago; palácio e cerca torreada de D. Brites; construção
polychroma de Afonso de Albuquerque» A presença de fragmentos do século XV é fundamentada, segundo o mesmo autor, no facto de ter encontrado «duas casas cobertas com abobadas em ogiva e de arestas cujas nervuras nascem tão próximo do chão, a não restar duvida de que o pavimento correspondente deve achar-se muito soterrado e de que se levantou outro sobre ele para alcançar o novo nível.
Esta afirmação de Joaquim Rasteiro foi muito contestada, em 1908, por Joaquim Vasconcellos, em A Arte e a Natureza em Portugal.
«Em virtude do que foi escrito, ,o nosso primeiro empenho ao visitar cuidadosamente a Bacalhoa, foi sujeitar a rigoroso exame todos os pavimentos terreos das diferentes casas. Que ha construções soterradas, isso não sofre dúvida; mas
ninguém pode adivinhar o que valerá a parte sepultada. Argumentamos com o que está à vista.
Ninguém ganha, transformando uma edificação clara, harmónica, homogénea,
numa manta de retalhos arquitectónicos e complicando um episódio claríssimo da historia da nossa arte com um dos problemas mais
difíceis e obscuros, a intervenção de Andrea Sansovino na Renascença portuguesa, precisamente no momento critico em que a architectura passava das concepções puramente nacionais para a imitação dos novos modelos italianos, primeiro hesitando e sem guia clara.»
Mais recentemente, Dagoberto Markl afirmou também ser «difícil, mesmo depois da minuciosa análise feita por Joaquim Rasteiro no final do século passado, distinguir claramente o que pertencerá a épocas anteriores e à intervenção ordenada por Albuquerque e o complexo de edificações hoje subsistente (que por seu turno se não afasta muito do descrito no tombo de 1631, como se viu atrás).
Esta mansão quinhentista é considerada como o mais importante repositório da azulejaria primitiva em Portugal.
A propriedade foi adquirida, nos anos 60, por Mrs. Orlena Scoville, que iniciou
uma obra de salvamento e reconstituição da quinta, sem a qual esta propriedade
não se
encontraria nas condições
actuais.
Foi adquirida recentemente pelo Comendador Berardo /
Bacalhôa Vinhos
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