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A família Cremer
começou por adquirir em Azeitão uma «quinta junto a Catralvos», mais tarde
denominada «Quinta da Conceição», onde edificou um solar que é dos mais
interessantes da região devido às características, reveladoras de uma influência
holandesa (torre-lanternim com uma finalidade meramente decorativa) e portuguesa
(beirado e silharias).
A casa é comprida e baixa e
tem a forma de «E». Uma dupla fila de degraus, situada em frente da porta
principal, constitui a barra do «E».
A designação da quinta esta
assinalada par uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, que encima
aquela entrada do edifício. No lado esquerdo está a capela, com uma inscrição em
latim que, traduzida para português, diz:
D Antonio Cremer, cavaleiro
da Ordem de Cristo, almirante dos Países baixos, encarregado geral dos negócios
de Portugal, e sua mulher muito querida D. Catarina Sofia Van Zeller, tanto para
satisfazerem a própria devoção como a dos vizinhos, levantaram este pequeno
templo a Deus Bom e Grande e á Pura Conceição da Imaculada Virgem Mãe de Deus.
Edificaram mais as casas juntas para seu repouso e plantaram o jardim. A pedra
fundamental foi lançada no primeiro dia de Maio de 1715 depois da publicação do
tratado de paz entre Portugal e Espanha e no dia 8 de Setembro do mesmo ano
tiveram lugar na capela os primeiros ofícios religiosos. Aceita, ó Virgem, estes
altares que te consagramos e não desprezes, deusa benigna, a pequena dádiva.
Na fachada do edifício vêem-se
duas escadas de pedra com dois lances simétricos aos lados direito e esquerdo de
quem entra, dando acesso às salas do primeiro andar. Em cada uma das paredes que
lhe servem de suporte existe um painel de azulejo representando um cão de
grandes dimensões, num dos lados em atitude de defesa, pronto a atacar e a
destruir o intruso, e, no outro, sorridente e amigo, aguardando todo aquele cuja
visita fosse bem-vinda. Sobre uma das portas do palácio há o que ainda resta do
brasão dos Cremer: escudo partido em pala; na primeira uma ave como uma cegonha,
sustendo no pé direito, erguido, uma pequena esfera; na segunda, em baixo, um
pequeno pássaro; a meio uma estrela com cinco raios; mais acima dois outros
pássaros; e no canto superior esquerdo um liz.
Francisco Augusto Sacramento,
que foi caseiro desta quinta há cerca de 80 anos, contava que ainda conhecera um
anexo do palácio que os azeitonenses mais idosos diziam ser do tempo da família
Cremer. Era uma espécie de gruta situada junto de um carvalho secular, a uns 300
metros do início da escada de pedra do palácio, a qual tinha a forma de um
crescente e era em grande parte envidraçada. Esta particularidade permitia que
se visse do interior deste pavilhão a entrada do edifício. Era neste local,
segundo se dizia, que os proprietários da quinta e os seus convidados se reuniam
à tarde, durante a época de Verão, para tomarem chá.
No palácio da Quinta da
Conceição existiram dois quadros a óleo representando António Cremer e a esposa,
os quais pertencem actualmente ao solar da Quinta do Peru, e duas telas do
princípio do século XVIII, simbolizando Santa Catarina e a Virgem.
Algumas salas do palácio, em
particular o salão nobre e a capela, têm ainda as paredes azulejadas. Santos
Simões admitiu que se tratasse de exemplares cuja data se poderá situar entre
1725 e 1730.
A Quinta da Conceição
pertenceu posteriormente ao visconde da Lançada, Professor Manuel Bento de
Sousa, a seu filho Dr. Antonio Maria Sousa e, mais tarde, a Carlos Ferreira e
herdeiros. O palácio foi mandado reconstruir em 1941 por Carlos Ferreira. Estava
abandonado, muito danificado e servia de curral e capoeira. A quinta
encontrava-se, nessa época, alugada na sua quase totalidade.