Neogénico
Há cerca de 24 milhões de anos (início do Miocénico), o
afundamento progressivo da Península de Setúbal permitiu a entrada
do mar, que constituiu um golfo estreito que se estendia até às
proximidades de Almeirim. Desenvolveram-se recifes de corais e,
localmente, áreas pantanosas. No mar viviam peixes cofre e sirenídeos.
Surgiram praias, umas no interior do golfo outras mais expostas à
influência directa do mar.
Há cerca de 18 milhões de anos (Miocénico inferior), a serra da
Arrábida começou a elevar-se. Logo depois, o mar em ascenção
penetrou muito para o interior até às proximidades da Azambuja. Os
relevos da Arrábida, entretanto emersos, constituíam uma ilha. A
temperatura da água do mar era elevada; nela viviam nautilóides,
ouriços, e peixes tropicais, incluindo numerosos tubarões.
Por volta de há 17 milhões de anos, o mar afastou-se de novo. O Pré-Tejo
divagava numa planície aluvial com um extenso delta terminal;
transportou até Lisboa areias grosseiras resultantes da erosão das
cordilheiras de montanhas do interior de Portugal. Na região viviam
mastodontes e rinocerontes. Os lagos eram povoados por tartarugas,
crocodilos e peixes. Todos estes animais estão representados por fósseis
que foram sendo recolhidos nos antigos areeiros de Lisboa (Lumiar,
Areeiro, …).
Duas novas oscilações no nível do mar trouxeram águas quentes até
o interior da depressão para onde corria o pré-Tejo. No mar viviam
numerosos tubarões (tubarão-limão, tubarão tigre, entre outros)
e grandes barracudas que indicam águas com temperatura de cerca de
24-25°C.
Seguiu-se um intervalo de aridez acentuada entre cerca de 16,5 e 15
milhões de anos. Havia savanas e estepes onde habitavam
rinocerontes corredores. A floresta desenvolvia-se apenas ao longo
dos poucos cursos de água. Os seus fósseis foram sendo encontrados
nos antigos areeiros de Chelas e do aeroporto da Portela em Lisboa
Há cerca de 15 milhões de anos (Miocénico médio) o mar começou
a subir de novo. As águas marinhas penetraram muito para o interior
desenvolvendo-se um golfo até às proximidades de Santarém. As
serras da Arrábida e de Sintra constituiram ilhas. Depositaram-se
primeiro, arenitos com cimento carbonatado muito fossilíferos,
depois, areias muito finas, mais ou menos argilosas, de cor cinzenta
azulada (com pirite, sulfureto de ferro) que denunciam a existência
de áreas marinhas com circulação de água reduzida e oxigenação
deficiente. Houve fenómenos de morte colectiva de animais,
conduzindo a sucessão rítmica de leitos ricos de fósseis com as
conchas bem conservadas — lamelibrânquios, gastrópodes, raros
braquiópodes e vertebrados. Além de cetáceos, encontra-se fauna
variada de peixes em que as espécies tropicais são raras; tanto as
associações de seláceos como de teleósteos incluem formas de águas
relativamente profundas, incluindo peixes com orgãos luminosos. Os
foraminíferos planctónicos são abundantes. Atingiram-se então as
maiores profundidades verificadas na bacia do Baixo Tejo.
Seguiu-se nova descida do nível do mar que fez com que se
depositassem areias finas na região de Lisboa, seguidas por
biocalcarenitos muito fossilíferos, que apontam já a retoma da
subida do mar, que atingiu o apogeu há cerca de 11 milhões de
anos. São frequentes pectinídeos e ostreídeos, faltam formas vasícolas.
Abundam colónias de briozoários, são comuns os foraminíferos e
diversos equinídeos. Dentre os vertebrados, existiam cetáceos,
tartarugas e peixes em associação rica onde rareiam formas de
profundidade. Sugerem águas quentes sem atingirem, contudo,
temperaturas comparáveis aos máximos de há 17 e 16 milhões de
anos.
O mar manteve-se na região até há cerca de 10,5 milhões de anos
(Miocénico superior) quando começou a retirar-se de novo. Surgiram
ambientes litorais ricos de ostreídeos, às vezes de enormes dimensões,
provavelmente indicadores de diminuição de salinidade.
Com a descida do mar (há cerca de 5 milhões de anos), o Pré-Tejo
transportou areias do interior que se estenderam desde Castelo
Branco até ao litoral da Península de Setúbal, enchendo a extensa
depressão drenada pelo rio.
Há 4 milhões de anos o mar invadiu de novo, por pouco tempo, a Península
de Setúbal constituindo um golfo pouco extenso que não deve ter
ultrapassado a região do Montijo, após o que o Pré-Tejo continuou
a transportar areias e a divagar entre a Arrábida e os relevos de
Lisboa-Vila Franca de Xira.
Info
retirada de
Departamento de Geologia da Fac. Ciências da Univ. de
Lisboa |