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FAUNA TERRESTRE
No Parque Natural da Arrábida estão registadas 213 espécies de vertebrados,
das quais 8 são anfíbios, 16 são répteis, 154 são aves e 35 são mamíferos.
Trata-se de um número considerável de espécies, atendendo a que as zonas húmidas
constituem, apenas, uma pequena percentagem do território, motivo da delimitação
actual da Área Protegida e das suas características climáticas (clima
termomeditererrânico) e geológicas (predominância de calcários). Todavia, a
única Reserva Zoológica existente no PNA localiza-se numa zona húmida (Pedra
da Anixa), local onde se observam algumas aves marinhas, sobretudo durante o
Outono e o Inverno.
Os biótopos mais representativos e determinantes dos valores faunísticos são
as arribas calcárias e os afloramentos rochosos, as grutas, os matos, os
matagais, os machiais, as matas, os montados de sobro, os pinhais, os prados e
os pequenos cursos de água.
Devido à sua relativa inacessibilidade, as arribas calcárias e os afloramentos
rochosos constituem habitats de reprodução e de refúgio para aves rupícolas,
grande parte das quais com estatuto de protecção. Destacam-se a águia de
Bonelli (Hieraaetus fasciatus)- único casal a nidificar na costa
portuguesa-, o falcão-peregrino (Falco peregrinus), o peneireiro-comum (Falco
tinnunculus), o pombo-das-rochas (Columba livia), o bufo-real (Bubo
bubo), a coruja-das-torres (Tyto alba), o andorinhão-real (Apus
melba), o melro-azul (Monticola solitarius) e o rabirruivo-preto (Phoenicurus
ochrurus). A lagartixa-do-mato-ibérica (Psammodromus hispanicus), a
lagartixa-de-dedos-denteados (Acanthodactylus erythrurus) e a víbora-cornuda
(Vipera latastei) também neles encontram as melhores condições de
habitat.
As grutas, normalmente localizadas em arribas, têm associada uma fauna muito
particular, de quirópteros cavernícolas maioritariamente protegidos, que as
procura para criação, hibernação e repouso. Entre as principais espécies
encontram-se o morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii), o
morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale), o
morcego-de-ferradura-grande (Rhinolophus ferrumequinum) e o
morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus meherlyi).
Os matos, formações vegetais dominadas por arbustos e sub-arbustos, de composição
variada e altura até 1,5m, conferem boas condições de alimentação e abrigo
a répteis, como a lagartixa-de-dedos-denteados, a lagartixa-do-mato-ibérica, a
cobra-de-pernas-pentadáctila (Chalcides bedriagai), a cobra-de-escada (Elaphe
scalaris), a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), a víbora-cornuda
e a cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis), e de alimentação aos
morcegos e, sobretudo, aos passeriformes, como o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus
rubecula), o cartaxo-comum (Saxicola torquata), a toutinegra-de-cabeça-preta
(Sylvia melanocephala) e a carriça-do-mato (Sylvia undata), que aí
encontram alimento em quantidade e variedade (insectos e bagas), servindo
inclusive de local de nidificação para as 3 últimas espécies. É, no
entanto, nas primeiras etapas da sucessão que os matos são mais produtivos,
proporcionando mais alimento às populações de consumidores primários, como
as várias espécies de insectos (que se alimentam de constituintes das
plantas), de roedores, de lagomorfos (coelho-bravo Oryctolagus cuniculus)
e de aves granívoras (ex: perdiz-comum Alectoris rufa), favorecendo,
assim, os consumidores intermédios da cadeia alimentar, como as populações de
insectos predadores e parasitas, de répteis, de alguns passeriformes e de
morcegos e, consequentemente, os consumidores do topo da cadeia, como as populações
de peneireiro-comum, de falcão-peregrino, de águia de Bonelli, de bufo-real,
de raposa (Vulpes vulpes), de doninha (Mustela nivalis) e de toirão
(Mustela putorius).
O desenvolvimento dos matos em altura (1,5 a 3m) e em densidade (90 a 100% do
coberto) confere-lhes novas características ecológicas, passando a designar-se
matagais. Constituem habitats preferenciais para a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus
galganoi), para o sapo-de-unha-preto (Pelobates cultripes), para a
lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus), para a víbora-cornuda, para a
cobra-de-ferradura, para a toutinegra-de-cabeça-preta, para o
pisco-de-peito-ruivo e para a raposa. A presença de zambujeiro em alguns
matagais confere as condições ideais de alimentação para os tordos (Turdus
spp.), de entre os quais se destacam, pela sua abundância no período de
migração, o tordo-ruivo (Turdus iliacus) e o tordo-comum (Turdus
philomelos).
Os machiais são formações constituídas, essencialmente, por arbustos sempre
verdes esclerófilos com altura superior a 3m, podendo alcançar a forma e o
porte arborescentes. Estas comunidades fazem a transição entre os matagais e
as matas (de Quercus faginea, de Olea europaea var. sylvestris, de Ceratonia
siliqua, de Acer monspessulanum) e são frequentemente habitadas por espécies
de ambos os biótopos, como a rã-de-focinho-pontiagudo, a lagartixa-do-mato e a
toutinegra-de-cabeça-preta, que são típicas dos matagais, e como o sardão (Lacerta
lepida), os chapins (Parus spp.), os tordos (Turdus spp.), o
gavião (Accipiter nisus), o bufo-real, o morcego-de-ferradura-grande, o
morcego-de-ferradura-mediterrânico e a geneta (Genetta genetta), que são
típicas dos vários tipos de matas, e ainda por espécies que encontram nos
machiais as condições óptimas de habitat, como o rouxinol (Luscinia
mergarhynchos), o pisco-de-peito-ruivo e a carriça (Troglodytes
troglodytes). Os bosques de Acer monspessulanum proporcionam alimento e
condições de nidificação ao bico-grossudo (Coccothraustes coccothraustes).
Nos montados de sobro ocorre a maior diversidade se espécies (135 espécies
inventariadas), facto que se deve à coexistência de vários biótopos,
nomeadamente da floresta (de sobreiros), dos matos e dos prados de herbáceas.
As cavidades existentes nos sobreiros mais velhos, nichos indispensáveis para
alguns animais, propociona-lhes local de abrigo e de nidificação. Em termos de
herpetofauna são frequentados por espécies de hábitos marcadamente
terrestres, como a cobra-de-pernas-pentadáctila, a lagartixa-de-dedos-denteados,
o sardão, a lagartixa-ibérica (Podarcis hispanica), a
lagartixa-do-mato-ibérica e a cobra-rateira. No que diz respeito à avifauna, o
mocho-galego (Athene noctua), a coruja-do-mato (Strix aluco), a
poupa (Upupa epops), o rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus
phoenicurus), a tordeia (Turdus viscivorus), a perdiz-comum, entre
outros, encontram nos montados condições para nidificarem. Estas formações
destacam-se, igualmente, pela diversidade e abundância de passeriformes.
Trata-se de um biótopo que proporciona alimento em quantidade para o
pombo-torcaz (Columba palumbus) e para alguns morcegos, como o
morcego-de-ferradura-grande, o morcego-rato-grande (Myotis myotis) e o
morcego-de-ferradura-mediterrânico, que caçam em áreas de vegetação densa
ou com muitos obstáculos. É um dos biótopos preferenciais para o coelho-bravo
e para os carnívoros terrestres, destacando-se o texugo (Meles meles) e
a provável ocorrência de gato-bravo (Felis silvestris).
Os pinhais apresentam uma reduzida diversidade específica. Da herpetofauna,
ocorrem apenas as espécies marcadamente terrestres, entre as quais merecem
referência a rã-de-focinho-pontiagudo, o sardão, a lagartixa-do-mato e a
cobra-de-ferradura. Os pinhais estão entre os principais biótopos em termos de
diversidade entomológica, facto que favorece a abundância de aves insectivoras
tipicamente florestais, como o torcicolo (Jynx torquilla), o
pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major), os chapins (Parus spp.),
a trepadeira-comum (Certhia brachydactila), e o cuco-canoro (Cuculus
canorus) e proporciona a ocorrência de algumas espécies de morcegos. Dos
restantes mamíferos, os carnívoros menos especialistas também ocorrem neste
biótopo, como sejam a raposa, a doninha, a fuínha (Martes foina), e a
geneta.
Os prados caracterizam-se por alta diversidade em espécies devido,
essencialmente, à forte representatividade dos grupos dos passeriformes e dos
pequenos mamíferos, que por sua vez atraem predadores de outros habitats onde
estão regularmente presentes. Apesar de constituirem excelentes habitats de
alimentação, geralmente, não são habitats de permanência porque são
destituídos de abrigos e consequentemente não proporcionam camuflagem. Da
herpetofauna ocorrem, geralmente, as espécies de hábitos marcadamente
terrestres, como a rã-de-focinho-pontiagudo, o sardão, a cobra-de-pernas-tridáctila
(Chalcides striatus), a cobra-de-ferradura e a cobra-rateira. Estas áreas
são, igualmente, utilizadas como locais de alimentação por numerosas espécies
de passeriformes, como a cotovia-de-poupa (Galerida cristata), a
petinha-dos-prados (Anthus pratensis) e o trigueirão (Miliaria
calandra), e servem, ainda, de território de caça para as rapinas, das
quais se destacam o bufo-real, a águia de Bonelli, a águia-cobreira (Circaetus
gallicus), o falcão-peregrino e o peneireiro-comum. Tratando-se de espaços
abertos constituem biótopos preferenciais de alimentação de um conjunto
importante de quirópteros, como o morcego-de-ferradura-grande, o
morcego-de-ferradura-mediterrânico, o morcego-de-ferradura-mourisco, o
morcego-rabudo (Tadarida teniotis) e o morcego-de-peluche.
Os pequenos cursos de água, frequentemente marginados por galerias ripícolas de
Quercus faginea, Salix alba, Salix atrocinerea, Fraxinus angustifolia e Populus
nigra, apresentam uma alta diversidade de espécies. As galerias ripícolas
são, sem dúvida, o biótopo mais importante para a comunidade de anfíbios,
ocorrendo nele todas as espécies inventariadas, das quais se destacam a rã-de-focinho-pontiagudo,
o tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) e a rela (Hyla arborea).
Os recursos aquáticos associados às galerias proporcionam alimento, abrigo e
funcionam como corredores de dispersão. Estes habitats possuem características
ecológicas particulares, as quais são essenciais para a manutenção de várias
espécies, das quais se destacam o cágado (Mauremys leprosa), as
cobras-de-água (Natrix spp.), o gavião, o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus
ruficollis) e o guarda-rios (Alcedo atthis). Como elemento de
particular relevância deste biótopo ressalta a diversidade e a abundância de
passeriformes. As zonas ripícolas são o biótopo onde, potencialmente, ocorrem
mais espécies de mamíferos, de entre as quais se destacam os quirópteros,
casos do morcego-de-ferradura-grande e do morcego-de-ferradura-mediterrânico.
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