ARQUITECTURA MILITAR
Praças fortes muçulmanas e castelos medievais
Localizados na periferia Oriental e Ocidental do
PNA, os
castelos de Palmela e Sesimbra são as fortificações mais antigas da região
da Arrábida. No mesmo local, existiram em tempos importantes praças fortes
muçulmanas. Destruídas durante o conturbado período de avanços e recuos
nas conquistas da instauração da nacionalidade, foram reconstruídas no
séc. XIII e entregues à Ordem de Sant'Iago. Foram posteriormente sujeitas
a diversas obras de restauro e ampliação tendo ficado bastante danificados
com o terramoto de 1755. Já neste século, anos 30 a 40, foram parcialmente
restaurados pelo estado, após o que caíram num período de relativo
abandono, Apenas o castelo de Palmela foi de novo parcialmente recuperado
nos anos sessenta, tendo sido aí instalada uma excelente pousada, no
edifício do antigo convento.
Vestígios de uma outra fortificação medieval designada
por castelo de Coina-a-Velha podem ser encontrados no sítio do Casal do
Bispo, em Azeitão. Esta fortificação tinha uma importância estratégica,
não só pela possibilidade de articulação em acções de defesa com os
Castelos de Palmela e Sesimbra, mas também na defesa contra forças que
através do Portinho da Arrábida quisessem penetrar na península de
Setúbal, e ainda, na protecção aos habitantes da região de Azeitão.
Fortalezas Quinhentistas
Nos finais do séc. XIV foi construída a primeira cinta de
muralhas de Setúbal, nessa altura uma vila de pescadores, para protecção
da comunidade contra os ataques de piratas norte-africanos, da qual
subsistem ainda alguns troços.
Data também desta época a construção da torre de
vigilância do Outão e das primeiras estruturas fortificadas construídas
naquele local. Esta fortaleza foi posteriormente restruturada e ampliada
por volta de 1572, face às exigências das novas técnicas de guerra. No
séc. XIX foi transformada em prisão, mais tarde em residência de férias do
rei D. Carlos, e por último, no início deste século foi ali instalado um
hospital ortopédico que se mantém até hoje.
No final do séc. XVI, durante a ocupação Espanhola,
Filipe II mandou construir a fortaleza de S. Filipe, em Setúbal, com o
objectivo de defender a vila e o seu porto e manter uma guarnição que
assegurasse o controle sobre aquela localidade, hostil ao domínio
castelhano.
A fortaleza foi projectada por um engenheiro militar
Italiano, Filipe Terzi, de acordo com os modelos mais avançados da época.
A sua estrutura abaluartada, com planta em estrela irregular de seis
pontas e muralha inclinada, permitia uma grande diversidade de direcções
de tiro, maior eficácia na defesa e maior resistência contra ataques da
artilharia pirobalística. No seu interior existe um conjunto de edifícios
onde se integra uma igreja revestida interiormente com magníficos azulejos
do séc. XVIII, e a antiga residência do governador, onde está hoje
instalada a pousada de S. Filipe.
Fortalezas Seiscentistas
Na Segunda metade do séc. XVII, após a restauração da
nacionalidade, é construída uma nova muralha em torno da vila de Setúbal,
e também, uma série de pequenos fortes ao longo da costa da Arrábida,
integrados numa nova estratégia de construção de linhas de defesa nas
barras do Tejo e do Sado. Datam deste período o forte de Albarquel em
Setúbal, os fortes de Sant'Iago e da Ponta de Cavalo em Sesimbra, o forte
do Cozinhador no Risco e a fortaleza de Stª Maria da Arrábida no
Portinho.
Exceptuando o forte do Cozinhador, os restantes foram
alvo de diversos restauros que lhes permitiram chegar aos nossos dias em
condições razoáveis. A fortaleza de St.ª Maria da Arrábida foi, nos finais
da década de 80 entregue ao PNA, e alvo de um total restauro,
encontrando-se aí instalado actualmente o Museu Oceanográfico.
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ARQUITECTURA RELIGIOSA
Época Medieval
É num ambiente puramente rural que encontramos os
exemplos mais arcaicos de templos cristãos existentes na região,
nomeadamente as duas ermidas devotadas a S. Pedro, existentes nos locais
de Alcube e Coina-a-Velha. As colunas toscanas e as influências românicas
atestam a origem medieval destas ermidas.
Outras ermidas, como a de N.ª Sr.ª d'El Carmen na Serra
da Arrábida, a de S. Gonçalo em Cabanas, a de S. Luís na serra com o mesmo
nome, a da N.ª Sr.ª da Escudeira em Barris - Palmela, foram proliferando
ao longo dos séculos na região da Arrábida, mantendo viva até aos nossos
dias, a tradição das seculares devoções populares em torno dos santos
padroeiros, expressa fundamentalmente nas festas e romarias que se
efectuam ainda na actualidade.
Em meados do séc. XIV foi edificada em Vila Nogueira de
Azeitão uma igreja, correspondente à actual igreja de S. Lourenço, com o
objectivo de corresponder aos anseios de uma população cada vez mais
significativa e que reclamava a construção de um templo onde se
ministrassem os sacramentos e a fé cristã. O edifício original, estilo
gótico, com um alpendre como acontece com outras capelas da região, foi
posteriormente reconstruído e alterado ao longo dos séculos. No seu
interior, de nave única com abobada abatida, realça-se a capela-mor com
talhas e pintura do séc. XVII e os painéis de azulejos do séc. XVIII.
No séc. XV surge outra obra de carácter religioso nesta
localidade, o Convento de N.ª Sr.ª da Piedade, destinado à Ordem de S.
Domingos. O importante conjunto localizava-se no topo sul do Rossio da
Vila Nogueira, tendo sido progressivamente destruído após a extinção do
convento em 1833. No início deste século o edifício do velho convento
serviu como hotel e estação de diligências, tendo sido mais tarde
parcialmente reedificado e posteriormente adaptado a residência
particular.
Para além do Convento da Arrábida, que será tratado
individualmente, outros conventos surgiram na região da Arrábida,
nomeadamente junto à cidade de Setúbal, como o convento de S. Paulo,
localizado a noroeste da cidade, na Serra dos Gaiteiros, cuja a construção
é atribuída aos séculos XIV/XV, e próximo deste, o Convento dos Capuchos,
fundado já em época posterior, no séc. XVI. Estes dois conventos
encontram-se em avançado estado de ruína e estão desde meados da década de
80 na posse da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal que, apesar
de alguns esforços nesse sentido, não conseguiu ainda dar corpo à ideia de
se vir a recuperar e revitalizar toda a propriedade.
Relacionado com a história destes dois conventos está
também o edifício da Quinta da Boavista, onde actualmente se encontra
instalada a sede da Província Portuguesa da Congregação da Apresentação de
Maria. O edifício, que até à actualidade sofreu diversas obras de
ampliação, já pouco ou nada terá a ver com o edifício que ali existiu nos
finais da Idade Média e que pertenceu à família de Vasco da Gama. No
entanto, próximo deste, existe a antiga Capela de St.º António, que
apresenta vestígios da sua origem medieval.
O CONVENTO DA ARRÁBIDA
Talvez o mais significativo de todos os conjuntos
religiosos da região da Arrábida, pela sua exemplar integração na meia
encosta sul da serra sobre a zona de Alportuche, é o Convento da Arrábida.
Este conjunto divide-se em duas partes: o Convento Velho e o Convento
Novo.
O Convento Velho foi fundado nas primeiras décadas do
séc. XVI por frades Franciscanos, a partir de uma antiga ermida existente
no local desde o séc. XIII, a Ermida da Memória, construída por
Hildebrando na sequência do milagre narrado na lenda de Santa Maria da
Arrábida. Para além desta ermida, o Convento Velho incluía um conjunto de
seis celas e um refeitório, estruturas bastante precárias e semi-naturais
onde se abrigavam estes primeiros frades franciscanos. Este conjunto
praticamente desapareceu nas últimas décadas, tendo sido roubados os
azulejos do séc. XVII que forravam o interior da ermida.
O Convento Novo começou a ser construído em meados do
séc. XVI e incluía inicialmente uma igreja e o mosteiro, com parte de
cozinha e oficinas. A magnífica integração deste conjunto é dada por uma
articulação dos volumes escalonados entre si e dispostos de uma forma
natural na encosta, fazendo uso da pequena escala, dos desníveis, dos
pátios e dos volumes desencontrados.
O conjunto foi sendo ampliado nos séculos seguintes,
salientando-se a construção das seis capelas imperfeitas em meados
do séc. XVII, projectadas para estação dos passos de Jesus e abrigo dos
frades, assim designadas por nunca terem sido concluídas, excepto uma. As
seis guaridas têm desenho arquitectónico estudado, com volumes de base
circular, octogonal e quadrada, sendo encimadas por cúpulas, todas
semelhantes mas todas diferentes, transmitindo uma singularidade notável a
este conjunto.
Salienta-se ainda uma outra ermida, a do Bom Jesus,
ricamente ornamentada com azulejaria e figuras de pedra, envolvida por um
magnífico jardim, contrastando com a simplicidade e austeridade do
restante conjunto.
Após a extinção das ordens religiosas em 1833 e mais
tarde da Casa de Aveiro, os terrenos do convento entram na posse da Coroa,
sendo vendidos em 1863 à Casa Palmela. Recuperado já neste século, na
década de 40, voltou a sofrer uma progressiva degradação até que, no
início dos anos 90 foi adquirido pela Fundação Oriente, com o objectivo de
ali instalar um centro destinado a actividades essencialmente culturais.
As obras de restauro e adaptação foram já efectuadas parcialmente no
núcleo principal, podendo o local ser visitado pelo público em dias e
horários condicionados.
Época Renascentista
A Igreja de S. Simão, em Vila Fresca de Azeitão, foi
fundada no séc. XVI por Afonso de Albuquerque, também em local onde
anteriormente teria existido uma ermida da mesma vocação. De traça
renascentista, a igreja tem três naves, sendo a cobertura da nave central
em madeira e a das laterais em abóbada de arestas. Diversas obras de
restauro foram efectuadas até aos nossos dias, tendo entretanto
desaparecido três das quatro torres originais na sequência do terramoto de
1755. No seu interior salienta-se o revestimento azulejar do séc. XVII.
De data incerta mas também atribuída ao séc.
XVI, a
capela de S. Sebastião, em Aldeia de Irmãos, é outro dos exemplos
tradicionais de pequenas capelas com alpendrado fronteiro, construídas ou
reedificadas pelos habitantes das aldeias. Outro exemplo é a ermida de S.
Marcos em Oleiros, datada do séc. XVII.
A Igreja da Misericórdia em Vila Nogueira de Azeitão é
construída no séc. XVII, após a fundação da Misericórdia de Azeitão e
encontrava-se englobada num conjunto de edifícios pertencentes aquela
instituição, os quais incluíam também a Casa da Igreja e o Hospital, estas
demolidas no séc. XIX.
Época Barroca
Por último, na região de Azeitão, é de referir a Capela
das Necessidades, construída no séc. XVIII por um habitante de Vendas, com
o objectivo de resguardar o Cruzeiro de Vendas, que esteve durante anos ao
ar livre. Apesar de albergar este cruzeiro, que se encontra classificado
como monumento nacional, a capela está encerrada e necessita que sejam
tomadas medidas urgentes quanto à sua conservação, uma vez que as suas
paredes são alvo permanente de inscrições e colocação de cartazes.
Após o terramoto de 1755, grande parte das igrejas
pré-existentes foram reconstruídas, denotando-se com frequência a
sobreposição de elementos barrocos à simplicidade característica das
capelas e igrejas da região.
Cruzeiros e Pelourinhos
O mais antigo cruzeiro de que se tem conhecimento na área
do PNA é o cruzeiro medieval, de características góticas, que se encontra
no interior da Capela das Necessidades, o qual, como atrás já foi
mencionado, é Monumento Nacional.
A origem deste cruzeiro é desconhecida, sabendo-se apenas
que se encontra naquele local desde 1474, conforme refere a inscrição
existente na sua base.
Este cruzeiro encontra-se tradicionalmente ligado a uma
lenda segundo a qual terá sido encontrado na
praia da Ajuda (Comenda), e aquando do seu transporte
para Lisboa, ao chegar ao Alto das Necessidades, o carro onde seguia
imobilizou-se e mesmo reforçando as juntas de bois, não foi possível
movê-lo mais, acabando por se partir. Entendido o facto como sinal divino,
a cruz foi ali colocada, e a coluna em que assenta foi crescendo, até que,
devido ao enfraquecimento da fé, deixou de se elevar.
As três cruzes que existem no Monte de Abraão, na serra
da Arrábida, são atribuídas ao séc. XVI e terão sido colocadas por S.
Pedro de Alcantâra e seus companheiros, julgando-se que faziam parte de
uma série que principiava em El Carmen e que permitia a quem vinha de
Azeitão para a Arrábida, rezar a Via Sacra no caminho.
Junto à Lapa de St.ª Margarida encontra-se o Cruzeiro do
Duque, que assinala o local onde durante os finais do séc. XVI e
princípios do séc. XVII, D. Álvaro de Lencastre, Duque de Aveiro,
costumava pescar aquando dos seus passeios à Arrábida, não permitindo que
mais ninguém ali o fizesse. Entre outras obras importantes na região, D.
Álvaro foi responsável pela execução de grande parte das obras do Convento
Novo da Arrábida.
O cruzeiro existente no adro da Igreja de S. Lourenço
está datado de 1726 e, segundo a tradição, foi ali colocado em
substituição de um outro datado de 1344, quebrado por um "furacão de
vento" que ocorreu em 1724.
Por último, é de assinalar o Pelourinho do Rossio de Vila
Nogueira de Azeitão, datado de 1786, que se encontrava anteriormente em
Vila Fresca e que assinala a passagem da sede do concelho daquela
localidade para a Aldeia da Nogueira, que a partir daí passou a chamar-se
Vila Nogueira.
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ARQUITECTURA CIVIL
Da Época Romana à Idade Média
Da época Romana até ao final da Idade Média, são
praticamente inexistentes vestígios de construções de carácter civil, se
bem que ao longo desses 1500 anos, a região da Arrábida tenha tido uma
ocupação rural dispersa por quintas e casais agrícolas, surgindo pequenos
aglomerados populacionais ao longo das principais vias de comunicação que
ligavam Setúbal e Palmela a Sesimbra e Lisboa, e que estarão na origem da
maioria das aldeias de Azeitão.
Fontes históricas escritas permitem localizar a
pré-existência de quintas medievais nas quintas de Alcube, Camarate,
Bacalhoa, Aldeia Rica, e ainda em Vila Nogueira de Azeitão. Nesta
localidade, no local da Casa do Povo, existiu em meados do séc. XIV uma
Quinta que pertenceu a D. Constança, 1.ª mulher de D. Pedro I, a qual teve
uma grande influência no desenvolvimento da antiga Aldeia de Nogueira e
levou a que esta região começasse a ser considerada como local de veraneio
preferido pela nobreza do reino. Dessas construções apenas ficaram alguns
elementos arquitectónicos que se mantiveram até à actualidade, como sejam
alguns arcos ogivais existentes na Bacalhoa, as portas com arcos de volta
perfeita, as pilastras e a varanda com colunas toscanas da Casa de Aldeia
Rica, e ainda, a verga da porta e olho-de-boi Manuelista existentes na
fachada da capela do edifício onde existiu o antigo solar real de D.
Constança, em Vila Nogueira.
Época Renascentista.
É na sequência desta fase de desenvolvimento em que,
paralelamente a algumas quintas fidalgas surgiram importantes construções
de carácter religioso como a Igreja de S. Lourenço e o Convento de N.ª
Sr.ª da Piedade em Vila Nogueira, que, na Segunda metade do séc. XV é
construído o Palácio da Bacalhoa em Vila Fresca de Azeitão. Para além do
seu valor arquitectónico, considerado como um dos primeiros exemplos de
arquitectura Renascentista entre nós, o palácio possui também um valioso
conjunto de painéis de azulejaria primitiva em Portugal. Ao longo dos
séculos pertenceu a diversas famílias nobres, entre as quais a de Afonso
Bráz de Albuquerque e foi Paço Real do Rei D. Carlos até que, após a
implantação da República, teve vários proprietários que alienaram muito do
valioso espólio da Quinta. Nos últimos 50 anos tem vindo a ser recuperado
e conservado pelos actuais proprietários, encontrando-se actualmente
classificado como Monumento Nacional. Braz de Albuquerque teve uma
influência determinante nos jardins desta Quinta. Com influências nítidas
do Renascimento Italiano, Braz de Albuquerque fez duas longas visitas à
Itália, não deixa, no entanto de ser um jardim tradicionalmente português
na sua orientação e estrutura. As influências Italianas traduzem-se mais
ao nível decorativo do jardim, nomeadamente nos passeios, que eram
decorados com lindíssimos azulejos, estatuetas e os famosíssimos medalhões
de cerâmica de Della Robbia, vendidos no princípio do século e
classificados em Itália como autênticos.
Outro edifício renascentista mas já do séc.
XVI, é a
Quinta das Torres. A sua arquitectura tomou como modelo os arquétipos do
Renascimento Italiano e possui também um conjunto notável de painéis de
azulejos. Actualmente a Quinta está aproveitada para fins turísticos
funcionando como estalagem, restaurante e casa de chá, e encontra-se
classificado como Imóvel de Interesse Público. Também de autoria de Braz
de Albuquerque, os jardins desta Quinta eram manifestamente um exemplo do
Renascimento Italiano, e muito embora tenham sofrido grandes alterações ao
longo dos séculos, não sendo possível analisar o seu traçado com rigor,
poder-se-à afirmar que o grande lago, com o seu clássico templete ao
centro, justificaria a existência de jardins e pomares de beleza e
monumentalidade idênticas ao próprio elemento gerador do espaço. Sendo o
lago o elemento mais significante, esta Quinta torna-se, por este facto,
um exemplo de tradição portuguesa.
Ainda do séc. XVI, é de referir a existência de outra
quintas, nomeadamente a Quinta da Torre em Oleiros, que se encontra
totalmente em ruínas e as quintas Velha e Nova, perto de Castanhos, das
quais a primeira encontra-se abandonada e em avançado estado de
degradação, e a segunda permanece habitada, encontrando-se aí instalada
uma das mais antigas queijeiras de queijo de Azeitão.
Iniciado ainda no séc. XVI e concluído no início do séc.
XVII, o Palácio dos Duques de Aveiro, em Vila Nogueira de Azeitão, veio
culminar esta fase de eleição da região para instalação de quintas e
solares, protagonizada essencialmente pela corte e pela nobreza do
reino.
O edifício é de estilo Maneirista e constitui o primeiro
exemplo de uma arquitectura civil monumentalista na região, sendo de
salientar aqui, mais uma vez, um importante espólio de azulejaria.
Actualmente o palácio é propriedade particular, sendo
mantido em uso residencial. Os seus interiores encontram-se em bom estado,
ao passo que exteriormente o edifício necessita de obras de
conservação.
Época Barroca.
Durante a ocupação Espanhola, a Casa de Aveiro e a
maioria dos fidalgos que tinham propriedades em Azeitão, tomaram partido
pelos Espanhóis. A restauração da independência provocou o abandono dos
solares que então foram pilhados de grande parte do riquíssimo espólio que
possuíam. Na sequência deste abandono, a região volta de novo, ainda no
séc. XVII a ser procurada como local de veraneio por nobres ligados à nova
ordem, e também, por uma burguesia florescente que passou a desempenhar
cargos importantes no reino.
Assim, dos finais do séc. XVII até ao início do séc.
XIX,
a região de Azeitão encheu-se de novas quintas e palácios, continuando
essa apetência natural das classes mais abastadas que, perto de Lisboa, aí
encontraram um espaço privilegiado de lazer, pela amenidade do clima, a
beleza das paisagens, a abundância de caça, construindo os seus palácios e
casas senhoriais, rodeando-os de olivais, vinhas e pomares.
Em torno das aldeias de Azeitão poder-se-ão contar cerca
de três dezenas de quintas que surgiram ou ressurgiram nessa época,
localizando-se a maior parte delas fora do PNA. Também em redor de Setúbal
se assiste ao aparecimento de muitas quintas, cerca de duas dezenas, em
que apenas uma pequena parte se encontra na área do PNA.
O exemplo mais significativo desta época é o palácio da
Quinta do Calhariz, propriedade dos Duques de Palmela. Primeiro pela
escala do edifício em si, pois assume-se como um modelo erudito que
ultrapassa a escala local, também pela sua arquitectura recheada de
referências barrocas, e por fim, pelo tratamento paisagístico da
envolvente do palácio, com jardins simétricos "à francesa, estatuetas e
lagos, com a definição perspectica dos eixos de modulação de todo o
conjunto e sua ligação à área rural envolvente e às próprias Serras da
Arrábida e do Risco.
Acompanhando este novo fôlego de prosperidade do
Séc.XVIII, as classes menos favorecidas de trabalhadores rurais e
domésticos, artesãos e pequenos comerciantes, foram também construindo e
melhorando as suas habitações, conferindo às aldeias de Azeitão o aspecto
característico com que chegaram até hoje. Apesar de algumas intervenções
menos cuidadas e da expansão urbana, que têm vindo a afectar estas
povoações, os núcleos históricos têm sido preservados, havendo contudo
algumas áreas que necessitam de recuperação.
Outro factor de desenvolvimento neste período foi a
fundação da primeira fábrica de chitas em Portugal, a qual foi instalada
no edifício da Casa de Aveiro, datando de finais do Séc. XVIII a
construção de um edifício anexo destinado aos teares e que se encontra
hoje transformado em adega da firma José Maria da Fonseca.
Período Neo-Clássico.
Durante o séc. XIX, a vitória do liberalismo trouxe de
novo uma fase de abandono da maioria dos solares, cujos proprietários eram
na sua maioria Miguelistas, voltando a repetir-se o desaparecimento de
riquíssimos espólios, tal como sucedera após a Restauração.
O desenvolvimento dos transportes, nomeadamente do
comboio, ajudou a uma certa marginalização desta região, voltando-se a
apetência das classes ricas para Sintra e depois Cascais e Estoril.
Deste período Neo-Clássico e Romântico, são poucos os
exemplos existentes do ponto de vista arquitectónico, havendo a salientar
um pequeno belveder que existe nos jardins do Palácio do Calhariz, de
estilo neo-clássico da ordem dórica, a Quinta das Baldrucas com a sua
arquitectura romântica, com janelas e chaminés de influência inglesa, o
seu pavilhão revivalista em que o neo-gótico se mistura com o neo-árabe, e
o seu jardim decorado com estátuas e azulejos, tão ao gosto da época.
É ainda na primeira metade deste século, pela
disponibilidade de algumas quintas vendidas apressadamente no decurso das
lutas liberais, que são lançadas as bases da firma José Maria da Fonseca,
responsável pelo grande desenvolvimento do cultivo da vinha na região e
pela produção dos seus afamados vinhos. O edifício sede desta firma, em
Vila Nogueira de Azeitão, foi construído inicialmente para habitação da
família e é um exemplo de revivalismo da arquitectura do séc.XVIII, onde
se destacam os telhados duplos com mansardas e os azulejos policromados da
fachada.
Século XX.
A partir dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX,
alguns solares voltam a ser reanimados por particulares pertencentes às
camadas socioprofissionais mais prestigiadas, surgindo como exemplos da
arquitectura do início do século, o edifício do casal do Bispo e a Casa da
Fonte de Oleiros, e mais tarde, já no período do Estado Novo, a
recuperação e ampliação do Palácio da Comenda, da autoria do arquitecto
Raúl Lino, bem como o aparecimento de algumas "casas portuguesas" nos
aglomerados de Azeitão.
Construções tradicionais.
A arquitectura de tipologia popular relaciona-se
directamente com as áreas rurais, onde a principal actividade é a
agro-pastorícia e onde as construções surgem disseminadas pela paisagem,
geralmente nos cabeços onde a terra é menos produtiva e mais difícil de
trabalhar.
Dentro deste regionalismo tradicional da construção
podemos considerar várias sub-tipologias na área do PNA:
De desenho tipológico com cariz alentejano, quando a
construção é mais encerrada, mais baixa, com menos vãos. Duas águas onde o
forno e a chaminé são proeminentes, sendo geralmente isoladas com anexos
ou alpendres justapostos e de pequena dimensão. Esta tipologia coincide
maioritariamente com o concelho de Palmela, com maior incidência no Vale
de Barris ou encosta Norte da Serra do Louro - Quinta do Anjo.
Outra tipologia surge nas zonas mais próximas de Setúbal,
podendo considerar-se uma casa da Estremadura, de linhas simples, maiores
vãos, telhados de duas águas, contrafortes, surgindo em parte da casa,
geralmente no topo, um segundo piso encimado por um telhado de quatro
águas. Estas casas surgem geralmente isoladas, com alpendres e são de
maior dimensão que as atrás referidas.
Podendo considerar-se tipologicamente idênticas às casas
da Estremadura, mas com diferenças locais na zona de Sesimbra, surgem
casas de telhado de duas águas, forno proeminente, pequenos vãos,
implantando-se geralmente em grupos de duas ou três construções, sendo uma
para habitar, outra mais alta para animais e a outra ocasionalmente para
apoio à actividade agrícola, formando pátios muitos
característicos.
Moínhos de Vento.
Os moinhos de vento são elementos importantes do
património construído tradicional que podemos encontrar com frequência nas
paisagens humanizadas da região da Arrábida, localizados nos cumes das
pequenas serras e montes, próximos dos principais aglomerados
populacionais, nomeadamente Setúbal, Palmela, Azeitão e Sesimbra.
Segundo a tese desenvolvida no livro "Sistemas de
Moagem", publicado pelo INIC, o moinho de tipo mediterrânico poderá ter
resultado da adaptação dos moinhos horizontais de tradição Irano-Afegã,
introduzidos na Península Ibérica no período da ocupação árabe ( séc.
VIII/X ), que a partir do séc. XII adoptaram um novo engenho de velame
vertical, então inventado no Norte da Europa, e a que posteriormente se
ajustou o velame triangular latino da nossa tradição náutica.
Os moinhos de vento verticais foram pouco utilizados
durante a Idade Média e a época renascentista (nesses tempos os moinhos de
água e as atafonas eram os sistemas de moagem mais utilizados),
assistindo-se no entanto à sua generalização a partir do séc. XVIII por
toda a Europa.
Estes moinhos de vento de tipo mediterrânico
caracterizam-se por uma sólida construção cilíndrica, ligeiramente cónica,
com grossas paredes em pedra ou taipa, dois pisos baixos e cobertura
cónica recolhida em relação ao perímetro exterior das paredes. A cobertura
é móvel por forma a permitir orientar as velas em relação ao vento, sendo
a sua estrutura em madeira munida de rodas que lhe permitem girar sobre a
parte superior das paredes, accionado a partir do interior, por meio de um
sarilho.
Grande parte destes moinhos funcionavam ainda no início
deste século, até sucumbirem totalmente nos anos 60 face à eficácia das
moagens industriais.
Actualmente, a maioria encontra-se abandonada ou em
ruínas, exceptuando-se alguns casos em que têm sido adaptados para
alojamentos particulares ou turísticos, ou ainda, para instalações de
radiodifusão.
O PNA tem vindo a promover a revitalização dos
moinhos de
vento, tendo em vista a manutenção do seu valor patrimonial e cultural,
tendo sido já restaurados dois moinhos na Serra do Louro, que se encontram
operacionais, servindo de exemplo vivo de actividades tradicionais.
Fontes e Obras de água.
A região da Arrábida foi rica em obras de água compostas
por extensas galerias, aquedutos e depósitos de grande capacidade, que se
encontram actualmente em ruínas, mas que se podem ainda observar em
diversas quintas, como a Quinta Nova, o Paço dos Duques de Aveiro, a
Quinta das torres e a Quinta dos Arcos.
O mais significativo exemplo deste tipo de
infraestruturas è o Aqueduto da Arca d'Água, cujas estruturas iniciais
foram construídas no séc. XV e que fornecia água a Setúbal. O aqueduto é
ainda hoje visível em quase toda a extensão, desde o sítio de Alferrara,
na Quinta da Arca d'Água, terminando em Setúbal, no Campo dos Arcos, a
partir de onde a água era conduzida por conduta subterrânea até chegar aos
chafarizes da cidade.
Durante séculos as aldeias de Azeitão abasteceram-se em
fontes, das quais a mais antiga que existe é a Fonte do Concelho, em Vila
Nogueira de Azeitão, na Praça 5 de Outubro, datada de finais do séc. XVII.
Nesta Vila há ainda a salientar a Fonte dos Pasmados, datada da segunda
metade do séc. XVIII.
Da mesma época é também a Fonte da Aldeia Rica e, dos
finais do mesmo século a Fonte de Oleiros.
Por último há ainda a destacar a Fonte da Samaritana no
Convento Novo da Arrábida.
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