GEOLOGIA
Do ponto de vista geológico a serra da Arrábida corresponde em
grande, a dobra anticlinal do meso-cenozóico, com diversos
cavalgamentos orientados WSW-ENE, profundamente fracturada segundo o
plano axial e de que apenas a parte N é observável.
São numerosos os acidentes secundários, bem como outras dobras e
cavalgamentos, que complicam muito o esquema simplista apresentado
atrás. A coluna litológica da área da serra da Arrábida inclui
rochas que vão desde a base do Jurássico até o Quaternário.
A sucessão inicia-se pelas margas e argilas vermelhas salíferas e
gessíferas de ambientes lagunares do Hetangiano (Jurássico
inferior). Sobre estas margas e argilas assentam calcários
compactos, de mar profundo, do Jurássico inferior e médio. De
seguida, a sedimentação reflecte a retirada progressiva do mar. No
Jurássico superior depositaram-se calcários margosos e margas de
mar pouco profundo, com pistas de dinossauros.
A sedimentação foi-se tornando cada vez mais detrítica. No Cretácico
inferior depositou-se espesso conjunto de areias, arenitos e argilas
de fácies continental. A retirada do mar fez-se de E para W;
existem variações laterais de fácies, sendo os depósitos de
Oeste sempre mais marinhos ou com menor influêcia continental.
A partir do Hauteriviano (Cretácico inferior) a área emergiu. Só
no Paleogénico voltou a haver sedimentação e esta deu-se em
ambientes continentais. Depositaram-se conglomerados, arenitos e
margas vermelhas, no topo aparecem calcários margosos de fácies
palustres.
No Miocénico inferior o mar voltou a invadir parcialmente a região.
Nas águas pouco profundas depositaram-se calcários biodetríticos.
A serra, parcialmente formada, devia então constituir uma ilha
contra o qual o mar embatia.
É provável que os movimentos que originaram a serra se tenham
iniciado ainda no Jurássico superior . Nesta época a sedimentação
tornou-se progressivamente mais detrítica começando, na parte E da
montanha onde existem espessos conglomerados grosseiros, com
elementos vindos mesmo do soco paleozóico, e que testemunham esses
primeiros movimentos. O dobramento prosseguiu lentamente durante
muito tempo; isso é evidenciado pelas numerosas pequenas discordâncias
angulares que se encontram até o Miocénico, e pelos conglomerados
com clastos de calcários da serra que ocorrem no Paleogénico da
Formação de Benfica. Foi então, no Miocénico inferior (cerca de
17 Ma), que se deu a fase mais activa de dobramento. Há discordâncias
angulares, numerosas fracturas e cavalgamentos. Um exame mais
cuidadoso dos depósitos Miocénicos dos anticlinais do Formosinho a
S,permite individualizar a existência de uma fase de movimentos
entre no Burdigaliano e outra pulsação há menos de 16 Ma (Miocénico
médio ?).
A erosão entre as duas pulsações influenciou muito o estilo tectónico
dos acidentes. O flanco rígido, situado a SE, foi profundamente
erodido e as fases posteriores foram suficientes para laminar o que
restava dos calcários duros da base do Mesozóico fazendo aflorar
os evaporitos. As margas salíferas e gipsíferas serviram de
lubrificante ao cavalganento o que levou ao aumento da sua flecha e,
por conseguinte, à diminuição da inclinação.
Info
retirada de
Departamento de Geologia da Fac. Ciências da Univ. de
Lisboa |