FORMAÇÕES
VEGETAIS DA ARRÁBIDA
Na Serra da Arrábida registaram-se, até hoje, 1450 taxa (espécies
e subespécies) sobressaindo formas de distribuição mediterrânica
(Elemento Mediterrânico) acompanhadas em algumas áreas,
nomeadamente nas encostas soalheiras e nas escarpas e arribas marítimas,
pelas espécies macaronésicas (Elemento Macaronésico) e noutras,
sobretudo nas umbrias, vertentes expostas ao quadrante norte, nos
covões e ao longo dos cursos de água, pelas espécies pertencentes
ao Elemento Eurosiberiano.
As
formações naturais e semi-naturais da Arrábida agrupam-se em oito
tipos fisionómicos principais.
1. Formações rupestres;
2. Ervedos;
3. Tomilhais;
4. Matos;
5. Matagais;
6. Brenhas;
7. Machiais;
8. Matos.
Das
formações citadas talvez as mais importantes sejam os Machiais e a
Matas.
Estabelecendo
a transição entre os Matagais e as Matas, os Machiais são
constituídos por arbustos sempreverdes esclerófitos com porte
arborescente (microfanerófito) formando bosque cerrado com
trepadeiras lenhosas e um sub-bosque sombrio e humoso com estrato
herbáceo pobre. Situam-se nas vertentes expostas a norte em solos
com afloramentos rochosos em particular nas vertentes da Serra da
Arrábida, no Vale do Atalho e no flanco da colina de Santa
Margarida.
As
matas são constituídas por comunidades mais complexas, em geral
com 3 a 4 estratos: O dominante (arbóreo) e os estratos arbustivo,
herbáceo e rasante. São diversos os tipos de matas consoante as
exigências ecológicas e o comportamento fenológico do biótopo
dominante.
Nas
matas perenifólias predominam os alfarrobeirais ou alfarrobais, os
zambujeirais ou zambujais, os sobreirais ou sobrais; nas matas
sub-perenifólias mesófilas destacam-se os carvalhais, e nas
caducifólias os bosques de zelha e as galerias ribeirinhas.
Em relação
às matas semi-naturais, derivadas da acção humana, destacam-se os
pinhais que incluem pinhais mansos, bravos e mistos.
Os
alfarrobeirais ou alfarrobais formam bosques de pequena dimensão
nas vertentes soalheiras, mais xerotérmicas, com afloramentos
rochosos calcários, tanto nos terraços das arribas marítimas do
Outão a Sesimbra, como nos escarpados dos montes de Azeitão a
Palmela e da Serra de S. Luís.
Os
zambujais podem acompanhar os alfarrobais ou constituir bosques
mistos preferencialmente em substrato calcário.
Os
sobreirais teriam ocupado, outrora, a maior área da Serra da Arrábida,
dominando em solos sobre rochas do Jurássico superior e em arenitos
do Pliocénico. Actualmente, as áreas de sobreiral estão limitadas
às vertentes mais acentuadas do terço inferior do flanco norte das
Serras da Arrábida, de S. Luís e dos Gaiteiros, dos montes da
Comenda e de algumas colinas do vale dos Picheleiros. Em terrenos
pouco acidentados existem ainda montados de sobro — Quinta da
Serra, Quinta de S. António, Arneiros, Calhariz.
Os
carvalhais ocuparam em tempos as vertentes setentrionais mais
elevadas. Presentemente, ocorrem em áreas reduzidas da Serra da Arrábida
de que se destacam a Mata Coberta e a Mata do Vidal. A Mata do Solitário
(encostas dos morros do Jaspe e do Guincho) não corresponde a um
carvalhal típico mas a um mosaico de machial e mata. Em situações
particulares encontram-se resíduos de mata de carvalhal ao longo
dos cursos de água.
Os
bosques de zelha existem em áreas muito limitadas da vertente norte
da Serra da Arrábida, em zonas mais sombrias, frescas e húmidas,
correspondentes a microclimas. Formam-se, sobretudo, em cascalheiras
(depósitos de vertente) como as que se observam na Fonte do Veado e
na Quinta da Serra.
Contudo, e de uma forma mais simplificada, podemos definir como
estruturas mais notáveis, por ordem crescente de importância ecológica,
fitocenótica e fito-geográfica:
- os carvalhais marcescentes de Quercus faginea, frequentes
um pouco por toda a cadeia da Arrábida em especial nas encostas
setentrionais e vales aluvio-coluvionares pouco degradados;
- as formações caducifólias sub-ripícolas (ou de linhas de água
torrenciais) com Crataegus monogyna subsp. brevispina e como
elemento notável o Acer monspessulanum;
- as formações perenifólias de cariz mediterrânico com Olea
europaea e Ceratonia siliqua mais frequentes nos vales
orientados a Sul;
- as formações rupícolas, as escarpas calcáreas interiores que
incluem Orysopsis coerulescens, Catapodium salzmanii,
Narcissus calcicola (narciso calcícola), Cheilanthes
catanensis, Convolvulus siculus, Linaria melanantha,
Chaenortrinum origanifolium;
- as formações perenifólias de possível transição
durisilvae-laurisilvae com portes que atingem 15 m e dominados nos
estádios mais equilibrados por Quercus coccifera, Phillyrea
latifolia e incluindo a escadente Smilax aspera.
Info
retirada de
Departamento de Geologia da Fac. Ciências da Univ. de
Lisboa |