Coina-a-Velha
[ver mapa da região]
Se seguirmos
a estrada de Sesimbra, depois de passado o cruzamento para a Arrábida,
encontramos, também à esquerda, um indicativo que diz «Piedade».
Dirigimo-nos assim a uma das povoações mais antigas da região de Azeitão, já
que, como a seu tempo dissemos, aqui se situava a Equabona dos
romanos. Aqui também existiu um castelo, mencionado em documentos de Afonso
Henriques e. Sancho I; o primeiro fez doação a Bernardo
Mendes, cónego da Sé de Lisboa, das igrejas que estão na região do castelo
de Coina; o segundo documento é o testamento de D. Sancho I, em que se manda
gastar determinada quantia na construção dos muros e no abastecimento de munições
dos castelos de Benquerença, Covilhã e Coina.
0 castelo de
Coina deve ter sido destruído por ataque muçulmano e nunca chegou a ser
reconstruído.
Na zona, existem os restos do que chamam o «castelo dos mouros» onde se vêem muralhas e torres, e uma cisterna. Acerca dele corre uma lenda, que Joaquim Rasteiro menciona e que ainda o guarda da próxima ermida de S. Pedro nos repetiu: os mouros aqui deixaram três casas subterrâneas, uma cheia de armas, que já fora aberta (a cisterna), outra cheia de ouro e outra com peste, pelo que ninguém se atreve a procurar o ouro com receio de encontrar a peste.
Rica em história,
esta zona não é das mais ricas em monumentos. São no entanto de referir a Capela
de S. Pedro, também com um bonito alpendre de colunas toscanas, de planta
quadrangular, e uma pequena torre sineira. Segundo a tradição, referida pelo
Padre Luiz Cardoso, esta «he mais antiga que a Igreja Paroquial».
Perto
desta ermida, encontra-se o acesso ao Casal do
Bispo, propriedade muito antiga,
que em finais do século XV fazia parte da chamada «Herdade da Infanta».
«ViSITAÇAM
DA JRMJDA DE SAM PEDR0 EM AZEITAM» «Visitamos a dita jrmida a qual he huma casa as paredes de pedra e barro e cuberta de telha vaam e hum altar de pedra e call em que esta a Imagem de Sam Pedro, de pao pintada . ...
Achamos que a dita jrmjda he tam antigua que nom ha memoria de quem a
fundou e edifícou de novo segundo fo mos informado per homens antiguos...» «Vísitação
da Villa de Cezimbra feita pelo Mestre Dom Jorge Nosso Senhor em 1516» |
Pertenceu depois ao infante D. João, filho de D. João I, e seus descendentes e foi vendida em 1528, juntamente com a Bacalhoa, a Brás de Albuquerque. Segundo Joaquim Rasteiro, foi comprada em 1545 por D. Belchior Beliago, bispo de Fez, que edificou uma casa nas proximidades do castelo de Coina, que deu o nome à propriedade. De acordo com o mesmo autor, a casa de habitação e oficinas agrarias ainda estavam de pé em 1894 . Actualmente, a casa, com mirantes e alpendres, apresenta intervenções posteriores, nomeadamente aplicações de azulejos azuis e brancos, do século XVIII. De notar que aquele bispo foi um humanista que passou pelo Colégio das Artes, em Paris, e ensinou em Coimbra.
Em
Coina-a-Velha situava-se ainda a Ermida de Nossa Senhora da Piedade,
mencionada em 1726 nas Memórias Históricas de Azeitão, e que, segundo
o Padre Manuel
Frango de Sousa, já existia no século XVII, fazendo parte da chamada Quinta
das Donas.
Ainda na
zona de Coina-a-Velha fica a Quinta de Santo Amaro, com capela da mesma
invocação, anterior ao Terramoto, e que, segundo as Memórias Paroquiais de
1758, pertencia na época ao pintor Francisco Pinto. Esta quinta, que ficou
arruinada com o Terramoto, sofreu vários restauros (o campanário
da capela tem as datas de 1798 e 1900), alguns dos quais já no século XX,
tendo-lhe sido integradas peças provenientes de edifícios destruídos (o
tanque veio do Colégio Infante de Sagres; a varanda posterior, da Quinta do Espírito
Santo, em Odivelas, tal como os azulejos da cozinha).
Na
capela está um sacrário que pertencia à casa dos actuais proprietários (Serpa
Pimentel) em Arroios, também destruída.
De
notável, e que poderá ser original, o silhar de azulejos da capela, com «Tebaidas»,
ou fundadores de ordens religiosas, datáveis de meados do século XVIII pelo
tipo de cercaduras; com grinaldas e cartelas; sendo os azulejos azuis e brancos,
só as cartelas são pintadas em tons vinosos. A casa comunica com a capela
através de tribuna; neste quarto, como nalguns outros, vêem-se silhares de
azulejos de figura avulsa. No salão principal os silhares são de albarradas
com meninos e molduras de acanto; o tecto de madeira tem decorações em talha
nos cantos.
No
jardim, existe também uma cascata de embrechados, com uma escultura
representando Santo Amaro.
© Todos os direitos reservados - Realizado por Bernardo Costa Ramos - azeitao.net