Tomando
em conta a referência ao topónimo local “Aqua Bona” (Água Boa) inserto num
códice do séc. X , da Biblioteca de Paris, poderemos inferir que a abundância e
a qualidade das águas potáveis desta área da região de Azeitão é conhecida desde
tempos imemoriais.
Aqua Bona, seria - segundo alguns
reputados historiadores - a antiga localidade denominada Coina a Velha. Entre
os que perfilham esta tese encontra-se o Padre Manuel Frango de Sousa, que no
extinto “Jornal Azeitonense” escreveu, a este respeito o seguinte “ ...
Depois de estudo atento, não se pode deixar de identificar Equa Bona (a
evolução do topónimo Aqua Bona para Coina deveria ter sido, mais ou menos, assim
: Equa Bonna - Quabonq - Quaona - Quona - Qouna - Couna - Coina) com Coina -
a Velha ... “, povoado que segundo o mesmo pároco, seria uma das “estações”
de uma das vias militares romanas de Lisboa a Mérida a qual teria o itinerário
seguinte: Olissipone - Equabona - Cetóbriga - Caeciliana - Malececa - Salácia
Ebora - Ad adrum flumem - Dipone - Evandriana - Emerita .
De igual forma pensa o historiador
Mário de Sá no tomo VI da sua obra “Itinerário de António Pio” quando escreve
que “ ... Exacta é a posição de Equabona em Coina a Velha onde houve uma
remota localidade romana ... “
Outra referência escrita,
antiquíssima, onde aparece o termo “água”, alusivo a terras de Azeitão, é a que
consta na carta do Rei Dom Pedro I, datada de 1366, pela qual este monarca
concede a Azeitão o privilégio de ter Juiz. De uma cópia do documento
transcreve-se o seguinte : “(...) Tenho por bem e mando que aia hy hum juiz
... que o dito juiz que for morador em Azeitã ouça hy determine todollos fetos
dos moradores da diata comarca e daqueles que som e forem moradores deagua
dolerys que tra. Pallmela e pelo cume da serra das portelas que tra. con na
a nova ... “
Igualmente antiquíssima,
(rodeada de lenda, mas de referência obrigatória) são as diversas citações sobre
as cisternas do “Castelo dos Mouros”, na vertente norte da Serra da Arrábida,
das quais, em lugar próprio se trata com mais pormenor.
Relativamente mais recente, há uma
outra informação: a de Dom Manuel Caetano de Sousa, datada de 1726, que nos
refere onze locais da região de Azeitão onde as respectivas populações se
abasteciam de água : ( in ,“Arrábida” - Dr. Cortez Pimentel)
Rio de São Simão
Fonte de São Simão
Fonte do Pereiro
Fonte do Paço
Fonte do Gonçalo
Fonte de Oleiros
Fonte de Aldeia Rica
Fonte de Aldeia Nogueira
Fonte da Torre da Quinta de Pavolide
Fonte Santa de Aldeia dos Irmãos
Fonte de Coina-a-Velha
Fonte do Porto da Arrábida

Ainda segundo a mesma
informação : “(...) As freguesias de São Simão e de São Lourenço eram
limitadas por um ribeiro que, correndo da Fonte do Pereiro, afluía no rio de São
Simão e, por intermédio deste, no rio Coina ...”
O Padre Cardoso, em 1747, a propósito
da água de Azeitão, escrevia, para o Dicionário Geográfico:
- ”(...) He este limite abundante
de aguas sadias, e preservativas do achaque de pedra ...”
Dentro desta linha de raciocínio, e
sabendo-se que houve ocupação humana, em terras de Azeitão, desde o calcolítico,
passando pelas colonizações fenícia, romana e árabe, poderemos deduzir que,
tais povoados dependeram - entre outros - de recursos de água potável. Como
tal, abordarei, sumariamente, o registo da presença destes nossos antepassados,
como colonos e, obviamente, como consumidores (mais tarde com seus gados)
deste precioso bem, o qual, ainda hoje, quer na serra quer na planura, abunda,
brotando de nascentes de superfície ou subterrâneas.
