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Chafariz de Vila Fresca

por Joaquim Oliveira


 

            O Chafariz de Vila Fresca é uma obra anterior ao exercício do poder municipal de Machado de Faria, mas do seu consulado deverá ter recebido alguns importantes benefícios. Segundo a tradição oral e os indícios documentais, estará implantado no local onde existia a fonte da Ermida de São Simão.

 É uma fonte de porte simples, mas harmonioso. Estrutura-se numa parede alta, de perfil superior recortado, limitada por duas pilastras, em cantaria das quais parte um  frontão triangular, encurvado, debruado a cantaria, no topo do qual se forma uma cimalha rematada por uma urna rectangular .  

            O tanque ou bacia do chafariz, talhado em cantaria, é de bordos redondos. O corpo bojudo, de oito gomos, forma um amplo círculo abatido, cujas extremidades se vêm incrustar no espaldar, junto às pilastras. Para o tanque correm duas bicas, saídas da boca de carrancas coroadas e, igualmente, esculpidas em cantaria.

            A soleira formando amplo patamar rectangular, com um degrau, é forrada por lajes de mármore e de cantaria , algumas delas, lápides com inscrições tumulares, originárias do antigo pavimento removido da igreja de São Simão.

Tanque e carrancas aparentam muito mais antiguidade do que o restante conjunto. O mesmo se passa quanto ao pavimento que, como é natural, para além do desgaste do uso, são lajes tumulares do século XVI, que deveriam ter merecido melhor destino ...

A alguns metros do chafariz há um grande bebedouro para animais, que era, também, abastecido pelas águas do Rio de São Simão, sendo o excedente canalizado para rega da quinta que lhe fica a jusante. 

            Ao chafariz de Vila Fresca - e ao próprio topónimo da povoação - prende-se uma “lenda” que, como quase todas, está ligada a um acontecimento real (aqui, o termo tem duplo sentido) que lhe deve ter dado origem. Eis o facto, noticiado no jornal “O Século” no dia seguinte ao acontecimento : 

            - No dia 1 de Agosto de 1903, o rei D. Carlos e a rainha Dona Amélia, acompanhados pelo seu ajudante de campo e por um administrador da Casa de Bragança visitou, pela primeira vez, o Palácio da Bacalhoa que recentemente tinha adquirido, em conjunto com o da Pacheca. As reais personagens e acompanhantes, tinham vindo de Lisboa para o Barreiro, em vapor, e desta vila, para Palmela,  em comboio especial. De Palmela até Vila Fresca a viagem foi feita de carruagem .

            Como se presume tenha acontecido, teria dado a volta pela “Ferradura” , atravessando Vila Fresca, tendo a carruagem parado junto à fonte para que os passageiros entrassem na quinta, pela porta que está transversal à igreja ... Aqui, a rainha teria manifestado aos presentes, o seu agrado pelo ameno clima que estava desfrutando e pela frescura das águas, -  provavelmente - sentida ao instintivamente contactar com o fluxo que corria das carrancas do chafariz.  

            Deste facto, ou de outro semelhante, visto que a Bacalhoa desde há muito recebia visitas reais, teria nascido a lenda, que segundo a mais perfilhada tradição oral, teria acontecido assim : (há outras versões)

            - “ A Rainha que tinha vindo passear por estas bandas, a certa altura do percurso teve sede e, mandou que lhe procurassem uma fonte de água pura para a saciar. Trouxeram-na até “Vila do Freixo”, onde se apeou e, na fonte de São Simão, bebendo de suas cristalinas e puras águas satisfez plenamente o seu desejo. 

            ... Depois, foi até às “Entrecercas”, onde se deliciou sob a sombra dos seus soberbos plátanos e graciosas faias e freixos ...

... Aspirou os ares puros e refrescante da amena brisa que lhe chegava perfumada pelo odor inebriante das tílias e jasmins da Quinta do César, que lhe estava próxima ...

            Tão deliciada ficou que, indagando da comitiva como se chamava o sítio onde tão bem se sentia, lhe informaram

- “Vila do Freixo”, Senhora ..

- “Que se passe a chamar Vila Fresca”, ordenou a Rainha .   

            Assim ficou para todo o sempre. Palavra de Rainha !” (Versão livre do autor, retirada da tradição oral)

            Esta lenda, é tomada como facto verídico por muitos naturais de Vila Fresca que a defendem com convicção, afirmando alguns que, seus pais ou avós testemunharam o acontecido. Olvidam ou desconhecem que, o topónimo Vila Fresca, (com outras grafias, conforme as épocas) dado à localidade, é anterior a qualquer provável visita real à localidade. É, pelo menos conhecido - com a grafia aproximada - desde 1630).

           

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