O
Chafariz de Vila Fresca é uma obra anterior ao exercício do poder municipal de
Machado de Faria, mas do seu consulado deverá ter recebido alguns importantes
benefícios. Segundo a tradição oral e os indícios documentais, estará implantado
no local onde existia a fonte da Ermida de São Simão.
É uma fonte de
porte simples, mas harmonioso. Estrutura-se numa parede alta, de perfil superior
recortado, limitada por duas pilastras, em cantaria das quais parte um frontão
triangular, encurvado, debruado a cantaria, no topo do qual se forma uma cimalha
rematada por uma urna rectangular .
O
tanque ou bacia do chafariz, talhado em cantaria, é de bordos redondos. O corpo
bojudo, de oito gomos, forma um amplo círculo abatido, cujas extremidades se vêm
incrustar no espaldar, junto às pilastras. Para o tanque correm duas bicas,
saídas da boca de carrancas coroadas e, igualmente, esculpidas em cantaria.
A
soleira formando amplo patamar rectangular, com um degrau, é forrada por lajes
de mármore e de cantaria , algumas delas, lápides com inscrições tumulares,
originárias do antigo pavimento removido da igreja de São Simão.
Tanque e
carrancas aparentam muito mais antiguidade do que o restante conjunto. O mesmo
se passa quanto ao pavimento que, como é natural, para além do desgaste do uso,
são lajes tumulares do século XVI, que deveriam ter merecido melhor destino ...
A alguns metros
do chafariz há um grande bebedouro para animais, que era, também, abastecido
pelas águas do Rio de São Simão, sendo o excedente canalizado para rega da
quinta que lhe fica a jusante.
Ao
chafariz de Vila Fresca - e ao próprio topónimo da povoação - prende-se uma
“lenda” que, como quase todas, está ligada a um acontecimento real (aqui, o
termo tem duplo sentido) que lhe deve ter dado origem. Eis o facto,
noticiado no jornal “O Século” no dia seguinte ao acontecimento :
- No
dia 1 de Agosto de 1903, o rei D. Carlos e a rainha Dona Amélia, acompanhados
pelo seu ajudante de campo e por um administrador da Casa de Bragança visitou,
pela primeira vez, o Palácio da Bacalhoa que recentemente tinha adquirido, em
conjunto com o da Pacheca. As reais personagens e acompanhantes, tinham vindo de
Lisboa para o Barreiro, em vapor, e desta vila, para Palmela, em comboio
especial. De Palmela até Vila Fresca a viagem foi feita de carruagem .
Como
se presume tenha acontecido, teria dado a volta pela “Ferradura” ,
atravessando Vila Fresca, tendo a carruagem parado junto à fonte para que os
passageiros entrassem na quinta, pela porta que está transversal à igreja ...
Aqui, a rainha teria manifestado aos presentes, o seu agrado pelo ameno clima
que estava desfrutando e pela frescura das águas, - provavelmente - sentida ao
instintivamente contactar com o fluxo que corria das carrancas do chafariz.
Deste
facto, ou de outro semelhante, visto que a Bacalhoa desde há muito recebia
visitas reais, teria nascido a lenda, que segundo a mais perfilhada tradição
oral, teria acontecido assim : (há outras versões)
-
“ A Rainha que tinha vindo passear por estas bandas, a certa altura do percurso
teve sede e, mandou que lhe procurassem uma fonte de água pura para a saciar.
Trouxeram-na até “Vila do Freixo”, onde se apeou e, na fonte de São Simão,
bebendo de suas cristalinas e puras águas satisfez plenamente o seu desejo.
... Depois, foi até às “Entrecercas”, onde se deliciou sob a sombra dos seus
soberbos plátanos e graciosas faias e freixos ...
... Aspirou os
ares puros e refrescante da amena brisa que lhe chegava perfumada pelo odor
inebriante das tílias e jasmins da Quinta do César, que lhe estava próxima ...
Tão deliciada ficou que, indagando da comitiva como se chamava o sítio onde tão
bem se sentia, lhe informaram
- “Vila do
Freixo”, Senhora ..
- “Que se
passe a chamar Vila Fresca”, ordenou a Rainha .
Assim ficou para todo o sempre. Palavra de Rainha !” (Versão livre do autor,
retirada da tradição oral)
Esta
lenda, é tomada como facto verídico por muitos naturais de Vila Fresca que a
defendem com convicção, afirmando alguns que, seus pais ou avós testemunharam o
acontecido. Olvidam ou desconhecem que, o topónimo Vila Fresca, (com outras
grafias, conforme as épocas) dado à localidade, é anterior a qualquer
provável visita real à localidade. É, pelo menos conhecido - com a grafia
aproximada - desde 1630).