azeitao.net                                                                                                                       Revista de Vinhos - Março 2003

  

Moscatel
Setúbal extremista, Douro conformado

por 
 
Quando o assunto é moscatel, só duas regiões respondem à chamada: o Douro e Setúbal. E se Setúbal ganha a prova, não tem só motivos para regozijo já que a qualidade de alguns vinhos velhos e dos mais baratos deixa muito a desejar. O Douro, apesar de não ter vinhos extraordinários, mostra um padrão de qualidade mais regular.
 

Ainda que seja à queima-roupa, responda lá à seguinte questão: tem alguma garrafa de moscatel em casa?
A resposta a esta pergunta dará, estamos em crer, a noção exacta da distância que separa este vinho dos consumidores. Razões para o divórcio haverá mas não será nem por falta de história (ver texto neste número da Revista de Vinhos), nem por falta de qualidade.
Os melhores vinhos de moscatel são extraordinários na qualidade (e também no preço), principalmente os oriundos de Setúbal.
Mas os piores também vêm da mesma zona e, ainda mais grave, é nos moscatéis velhos que mais se nota a ausência de qualidade. Tudo isto sugere que não há ainda massa crítica suficiente para forçar os produtores a aumentar a qualidade e a não colocar no mercado vinhos que deixam muito a desejar, pouco limpos, pesados, sem frescura e que, por isso, jamais conseguirão angariar novos consumidores.


Uma casta universal

Muito cultivada na bacia do mediterrâneo, a moscatel encontrou nas encostas suaves da serra da Arrábida o terroir que melhor espelha as suas virtudes.
Segundo Vasco Penha Garcia, enólogo da firma J. P. Vinhos e autor do volume relativo a Setúbal da Enciclopédia dos Vinhos Portugueses (Ed. Chaves Ferreira), é nos solos argilo-calcários que o moscatel que se destina a vinho generoso melhor se dá, decorrendo a vindima já em Outubro quando se trata de encostas viradas a norte. Consegue-se aí uma excelente proporção entre os ácidos e os açúcares, o que origina vinhos de superior qualidade.
Este moscatel é, na verdade, aquele que noutros países se chama moscatel de Alexandria. Já no Douro a variedade mais significativa é o moscatel galego, a mesma casta que em França se chama Muscat de Beaume de Venise.
Em Setúbal é uma casta que nos surge muitas vezes sem ser aramada formando cada pé de vinha um autêntico arbusto, com cachos de grande volume e bagos igualmente grandes.

Diferente deste tipo é o moscatel roxo – que não existe no Douro – uma variedade que apresenta uma película rosada, daí o nome que adquiriu.
Embora a zona do Douro mais importante para a produção de moscatel seja a zona planáltica de Alijó e Favaios não existe, em verdade, uma delimitação da área de produção. Actualmente e face à legislação em vigor, toda a região do Douro pode produzir vinho com direito à designação Moscatel do Douro. Para isso tem que cumprir algumas obrigações quanto à casta – tem que ter no mínimo 85% de moscatel galego – e quanto à graduação final - os vinhos têm que apresentar no mínimo 16,5º. Segundo nos informaram na casa do Douro é de facto essa a graduação normal dos moscatéis durienses, ou seja, um pouco inferior aos de Setúbal que têm normalmente 18º. A produção duriense atingiu, na vindima de 2001 o quantitativo de 13 000 pipas (7 150 000 litros), das quais 10 000 pipas elaboradas em adegas cooperativas.
Em Setúbal poucas variações houve de há dois anos a esta parte: cerca de 330 ha de vinha de moscatel destinada a generoso, 1 250 000 l de produção e uma produção de moscatel roxo que ronda os 8 000 l, em 11 ha de área de vinha.


Expectativas e conclusões

Luís Lopes:
Espero encontrar desde os muito bons até alguns com defeitos . No confronto Douro/Setúbal espero haver melhores resultados do que na anterior prova, que foi feita já há mais de seis anos. Na altura os melhores eram de Setúbal mas 50% dos vinhos de Setúbal tinham má qualidade, nomeadamente na qualidade da aguardente. No Douro não acontecia isso. Vamos ver como evoluíram os moscatéis de Setúbal e ver com se resolveu o problema da aguardente.


João Afonso:
Espero encontrar moscatéis do Douro limpos, suaves e agradáveis. Em Setúbal há o vinho novo enjoativo e sem graça e um velho de enormes custos para as casas, que são muito caros mas também muito bons. Como há agora mais Moscatel Roxo a ver vamos se isso melhora a qualidade média em Setúbal.


Conclusão:
Comparativamente houve menos casos prejudicados por má aguardente. Os novos do Douro surpreenderam pela positiva. Em Setúbal os vinhos novos são pouco entusiasmantes. Os vinhos surgiram mais limpos no Douro, mesmo nos vinhos baratos.
Os topos de gama de Setúbal mostraram-se como se estava à espera. Quando são bons são insuperáveis! O veredicto da Revista de Vinhos: se quer provar o que de melhor existe vá para Setúbal mas prepare-se para pagar bem cara a sua escolha. Para uma escolha “mais em conta o Douro é uma boa sugestão mas atenção ao moscatel de Setúbal sem data da J. P. Vinhos.


 

Trilogia

Moscatel de Setúbal
José Maria da Fonseca
Carregadíssimo na cor, laivos verdes quando se agita o copo, aroma denso e cheio, fechado, tudo com enorme concentração. Fresco mas muito cheio na boca, não é demasiado doce; notas de charutos, fumo, iodo, verniz, fruto seco, laranja, muito rico e extremamente longo.
€+++++
19,5


Alambre

Moscatel de Setúbal 20 anos
José Maria da Fonseca
É um vinho velho, nota-se ao rodar o vinho no copo, está com grande complexidade aromática, austero, muito rico, com notas fumadas. A boca revela um vinho de grande frescura , boa profundidade, farripa de laranja e um final doce, longo mas muito, muito fino. Um grande Moscatel de Setúbal.
€€€
18,5


Moscatel de Setúbal

1994
J. P. Vinhos
Excelente aspecto visual, muito brilhante, aroma muito limpo, muito fácil, rico e cheio de boas notas: fruto seco, laranja e algum mel mas tudo na dose certa. Lembra também um Porto mas elegante e austero.
Um grande Moscatel, sem a “carga” da idade mas com um excelente perfil.
€€
18,5


Moscatel Roxo

Moscatel de Setúbal 20 anos
José Maria da Fonseca
Austero mas muito bom no aroma, com notas fumadas, com a complexidade que só um grande Moscatel pode adquirir com o tempo. Muito bem na boca, está um vinho de bom recorte, pleno de virtudes. É pena ser tão raro.
€+++++
18


Moscatel Roxo

Moscatel de Setúbal 1992
J. P. Vinhos
Muito limpo, ligeiro no aroma, parece ter alguma idade, bastante fresco. Conjunto aromático de boa estirpe, com laranja, compota, algum fruto seco, ginja e mel. Muito bem na boca, com peso mas sem ser pesado, com a fruta doce a marcar presença e a prolongar o final.
€€
17


Portal

Moscatel do Douro Reserva 1996
Quinta do Portal
Tem um aroma típico do Moscatel que é o cheiro a farinha de pão, semelhante a um tawny 30 anos. Na boca aparece muito fresco, notas de baunilha e confeitaria; boca com boa acidez e um perfil elegante, associado a um final sem pontos fracos.
Um Moscatel bem curioso.
€€
17


Favaios

Moscatel do Douro 1989
Adega Cooperativa de Favaios
É um moscatel velho, com aroma fino, resinoso mas sem problemas de velhice, muito fresco e com boa complexidade, notas de doce de laranja e boa madeira velha.
Muito equilibrado na boca, excelente compromisso entre o envelhecimento e a frescura.
>b>€
17


Moscatel de Setúbal

s/data
J. P. Vinhos
Simples, alguma sugestão de laranja mas também alguma farmácia, está razoavelmente limpo e sem grandes arestas. Simples mas agradável na boca, suave, com boa acidez, falta-lhe alguma complexidade mas, como vinho novo, não está nada mal. Bom aperitivo.
16,5


Moscatel de Setúbal

Escolha 1998
Venâncio da Costa Lima
Austero, fechado, notas de compota e geleia, parece ter um bom vigor aromático. Bom perfil na boca, um vinho cheio, não muito característico da casta mas bem conseguido, notas de caramelo e café.
O final é correcto, doce mas agradável.
16


Vinho Licoroso

s/data
Caves Velhas
Vinho sem direito a Denominação de Origem por falta de registos é, no entanto, um moscatel roxo com cerca de 40 anos. A cor mostra idade, aroma com notas de geleia, caramelo e amêndoa torrada. Bem melhor na boca, mais complexo, fresco, final agradável e não enjoativo.
€€€€€
16


Moscatel de Setúbal

1999
Casa Agrícola Horácio Simões
Vê-se que é um moscatel novo, com um toque metálico, com fruta alaranjada bastante limpa e simples. Na boca repete a mesma sensação, boa a frescura e acidez, notas florais, nada de peso excessivo. Para beber novo, despreocupadamente.
16


Moscatel de Setúbal

s/data
Venâncio da Costa Lima
Tem aromas da casta, com as notas de mel e laranja presentes, sem marcar demasiado a prova. Bom volume na boca, cheio, boa também a acidez, notas de resina de pinho, é um moscatel de bom tom, de meia idade mas bem conseguido.
16


Moscatine

Moscatel do Douro s/ data
Adega Cooperativa de Alijó
Notas de mel, farinha, alguma laranja em farripa. Elegante na boca, correcto e cheio, um vinho fino, um pouco simples mas com bom recorte aromático.
16


Moscatito

Moscatel do Douro s/ data
Adega Cooperativa de Alijó
Tem bom carácter, com os aromas com algum peso a marcar a prova mas tudo com bom estilo, doce, algum caramelo, ligeira laranja, tudo concentrado.
A boca tem frescura, tem uma boa acidez e o final é elegante. Melhor na boca que no nariz.
15,5


Moscatel do Douro

s/ data
Niepoort
É um moscatel novo, com uma forte componente de laranja, mel e um ligeiro fumado da madeira.
Está limpo mas tem pouca profundidade aromática. Essas notas de laranja repetem-se na boca, está fresco e agradável.
€€
15,5


Moscatel de Setúbal

1999
Adega Cooperativa de Palmela
Tem um perfil diferente dos restantes, está com bom tom, simples, ligeiro mas a que falta garra. Correcto na boa, o que lhe falta em complexidade sobra-lhe em facilidade de prova e frescura.
15


D´ali Job

Moscatel do Douro s/ data
Adega Cooperativa de Alijó
Bom aroma, limpo, cheira à casta, tudo correcto. Correcto também na boca, cheio mas nada pesado.
É um vinho agradável que não requer grande concentração para ser apreciado.
15


Moscatel de Setúbal

s/data
Caves Velhas
O excesso metálico torna o aroma muito enjoativo e as notas de laranja acabam por sair prejudicadas. Melhora na boca porque esse carácter aromático surge mais atenuado. O conjunto fica desequilibrado mas o tempo no copo lá vai ajudando a melhorar o aroma. Demasiado intenso faltando-lhe alguma acidez para equilibrar a prova.
14,5


Moscatel de Setúbal

1999
Emídio Oliveira e Filhos
É um Setúbal claro, com muita laranja, um ligeiro enjoativo no aroma, um certo toque de farmácia. Simples mas bem na boca, notas de biscoito, acidez pouco evidente e final que prolonga o toque medicinal. Deverá ser bebido bem fresco.
14,5


Moscatel Roxo

Moscatel de Setúbal 1998
Casa Agrícola Horácio Simões
Cor velha, mogno. Aroma pesado, demasiadas sugestões de caramelo, falta-lhe frescura e falta-lhe complexidade. Pesado na boca, muito doce, tudo em excesso mas sem a elegância que se pretende.
€€
14


Moscatel de Setúbal

s/data
Xavier Santana
Aroma enjoativo, com laranja e mel mas sem a frescura aromática que poderia fazer a diferença. Muito doce na boca o que lhe confere um tom licoroso e pesado. Com menos alguma doçura poderia ficar bem melhor.
14


Portal

Moscatel do Douro s/ data
Quinta do Portal
É novo mas não cheira a moscatel e tem presença de sulfuroso. A boca confirma que não tem carácter da casta. Está um vinho muito estranho.
Não tem defeitos mas não parece ter as características necessárias para ser um moscatel.
13,5


Moscatel Roxo

Moscatel de Setúbal 1999
Sivipa
Cheira um pouco a xarope, as notas de farmácia marcam demasiado a prova. Pela cor parece um vinho velho mas não terá tido o melhor acompanhamento. Na boca melhora a prestação, está um vinho mais limpo mas tem peso demasiado e algo chato na boca.
Um Palmelão à antiga.
€€
13


Moscatel do Douro

s/ data
Adega Cooperativa de Favaios
Enjoativo, cheiro de borracha queimada, farmácia, tudo sem frescura. Melhora na boca mas, com este aroma não é vinho que mereça grande atenção.
13


Moscatel de Setúbal

1983
Emídio de Oliviera e Filhos
Empoado no aspecto visual, é um moscatel que denota bastante idade. Perde-se no nariz, revelando má madeira, má oxidação e tem o aroma sujo. Melhora na boca mas não parece ter tido o melhor acompanhamento.
É pena porque poderia ser um vinho de muito melhor prestação.
Final amargo, cola.
€€
12


Moscatel de Setúbal

1982
Adega Cooperativa de Palmela
Muito velho. Acidez volátil evidente, notas de verniz, deveria ter sido refrescado porque tem concentração mas não tem elegância. Aromas queimados, tosta exagerada, final demasiado curto para um vinho deste tipo.
€€
12


Moscatel de Setúbal

2000
Sivipa
Enjoativo no aroma, farmácia, pão, algum fruto seco. Muito doce na boca, pesado, fruto cozido e sem a frescura que uma melhor acidez poderia dar. Caramelizado, um vinho demasiado pesado.
11,5


Ficha de Prova

Tipo de vinho: Moscatel – licoroso e generoso

Ano de Colheita: vários

Tipo de Prova: cega

Região de Origem: Douro e Setúbal

Painel de Provadores: Redacção da Revista de Vinhos

Condições da prova: os vinhos foram refrescados antes da prova, sendo servidos a 15º


Categorias de preço:

€ - até 4 euros

€€ - entre €4 e €6

€€€ - entre €6 a €11

€€€€ - entre €11 a €17

€€€€€ - entre €17 e €25

€+++++ - mais de €25


Categorias de preço para vinhos generosos:

€ - até €8 euros

€€ - entre €8 e €14

€€€ - entre €14 e €20

€€€€ - entre €20 e €35

€€€€€ - entre €35 e €60

€+++++ - mais de €60


Classificação qualitativa:

0 a 9 - negativo, do vinho impróprio para consumo ao vinho com ligeiro defeito.

10 - vinho neutro, sem defeitos sensíveis mas também sem qualquer virtude. Apenas bebível.

11 a 12 - vinho simples, correcto, limpo, sem pretensões.

13 a 14 - vinho com qualidade evidentes, fácil e agradável de beber, sem complexidade ou longevidade.

15 a 16 - vinho de qualidade superior à média, com personalidade e alguma complexidade.

17 a 18 - muito bom vinho, de grande categoria e potencial.

19 a 20 - Vinho excelente, fora do comum, que impressiona extraordinariamente os sentidos.


Classificação da Prova

(As regiões vêm identificadas da seguinte forma: MS - Moscatel de Setúbal e D - Douro)

19,5

MS - Trilogia s/ data


18,5

MS - Alambre 20 anos

MS - J. P. 1994


18

MS - Moscatel Roxo 20 anos - J M Fonseca


17

MS - Moscatel Roxo J. P. 1992

D - Portal Reserva 1996

D - Favaios 1989


16,5

MS - J. P. s/ data


16

MS - Venâncio da Costa Lima Escolha 1998

Vinho Licoroso Caves Velhas s/ data

MS - Casa Agrícola Horácio Simões 1999

MS - Venâncio da Costa Lima s/ data

D - Moscatino s/ data - Alijó


15,5

D - Moscatito s/ data - Alijó

D - Niepoort s/ data


15

MS - Adega Coop. Palmela s/ data

D - Dalijob s/ data


14,5

MS - Caves Velhas s/ data

MS - Emídio de Oliveira e Silva 1999


14

MS - Moscatel Roxo - Casa Agrícola Horácio Simões 1998

MS - Xavier Santana s/ data


13,5

D - Portal s/ data


13

MS - Moscatel Roxo Sivipa 1999

D - Adega Coop. Favaios s/ data


12

MS - Emídio Oliveira e Silva 1983

MS - Adega Coop. Palmela 1982


11,5

MS - Sivipa 2000

Azeitão, uma região a descobrir     azeitao.net

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

 PUBLICITE neste site!

Este site foi compilado com optimização para uso com o Internet Explorer 4 ou superior. Embora funcione noutros browsers (por exemplo, Netscape), muitas das funções não terão pleno funcionamento, podendo igualmente existir configurações distorcidas.

 :: © 1999/2006 - Bernardo Costa Ramos  :: azeitao.net  ::  Azeitão, uma região a descobrir! ™ ::

Visite ainda: www.saboresdeazeitao.com  ::  www.bacalhoa.eu ::

Declaração de exoneração de responsabilidade :: Sobre o sítio/site azeitao.net