«O ritmo de construção de casas em Portugal é o dobro da média comunitária», este é o início da noticia de primeira página do 2º caderno do Jornal Expresso (18 de Dezembro). Impulsionador desta dinâmica foi, sem dúvida, a grande descida que as taxas de juro registaram nos últimos tempos, fazendo com que os portugueses (segundo um estudo da Euroconstruct) tenham uma média de três casas por cada duas famílias (na Europa em geral a média é de 1 para 1).
Azeitão,
região típica, bem localizada, lugar de bons ares onde a serra e o mar se
encontram, foi sendo escolhida ao longo dos séculos como lugar perfeito para a
fixação de “boas gentes”. Várias quintas se implantaram e pequenas povoações foram surgindo com a fixação dos
trabalhadores que vinham fazer a jorna nas mesmas.
A procura de casa nesta zona tem sido cada vez maior, levando a que as leis do mercado tenham seguido o seu rumo natural: muita procura e pouca oferta = preços especulativos/proibitivos. De facto, torna-se difícil, para a maior parte das bolsas, acompanhar a subida de preços, onde a média de custo por uma moradia ronda os 40, 50 mil contos.
Um dos problemas que se gera é por exemplo a escassa oferta de habitações, a preços suportáveis, para os casais mais jovens da zona. Não tendo posses para ir para os “altos voos”, resta a hipótese de viver com os pais, remodelar uma casa de família ou comprar um dos poucos apartamentos que por vezes surgem. O único senão é que estes apartamentos rondam os vinte e muitos mil contos e os que surgem são rapidamente vendidos, levando a que estes casais sejam geralmente obrigados a mudar para zonas mais acessíveis e mais distantes da sua terra.
Toda
esta procura levou a que ultimamente surgissem na vila de Azeitão e aldeias
circundantes variados loteamentos e urbanizações.
Na
vila e tendo como referência a Rua José Augusto Coelho (que atravessa Azeitão),
podemos tentar localizar alguns dos focos mais visíveis deste novo boom
urbanístico: para baixo, junto da Sociedade Filarmónica constrói-se a um
ritmo lento as numerosas habitações da Cooperativa de habitação, que
contrastam fortemente com as moradias que surgem no outro lado da estrada (que
foram tirar uns metros de terra à Quinta dos Foios). Mais abaixo, ao pé da
Escola Básica 2.3 de Azeitão, surge a bom ritmo um condomínio
de luxo.
Para
cima, por detrás da Quinta do Convento surgem duas urbanizações: a Urbanização
da Cerca e a Urbanização da Quinta do Convento, estando a surgir na Quinta
do Fisco aquilo que parece ser mais um loteamento ou urbanização.
Saindo
da vila em direcção à aldeia de Oleiros surge o loteamento
Olival D. Marta que irá ver surgir 44 moradias, num espaço total de 32 mil
metros quadrados. Seguindo pela estrada nacional e à saída da Aldeia de Irmãos
o loteamento Monte da Vinha (monte ??), com uma área duas ou três
vezes superior ao Olival D. Marta.
Não
pretendo com este artigo fazer uma apologia do “não crescimento” ou da “não
construção”. Pretendo sim chamar a atenção para o modo como esse
crescimento se efectua. O crescimento urbanístico nesta zona deveria seguir
regras (nº de pisos, cor, tipos de materiais, espaços em redor, etc) que
garantissem a tipicidade da mesma, de modo a evitar casos concretos, já
surgidos, de claro desenquadramento, como, por exemplo, a estação de correios
de Azeitão, a sucursal do banco CPP em Vendas, o prédio e moradia à entrada
de Aldeia de Irmãos, etc. Uma pergunta fica no ar: Como foi possível
autorizar-se a construção de tais edifícios?
Não
deixam de ser preocupantes outras situações que ocorrem de modo a ser possível
construir e crescer: caso chocante é sem dúvida a destruição da Quinta do
Estacal (Aldeia de irmãos), para se construir mais uns lotes do Monte da Vinha.
As
quintas vão-se desmembrando, esquecendo-se que das quintas surgiu esta terra.
Outro
caso são as vedações de arame farpado que vão surgindo pela serra, em pleno
Parque Natural, bem como as construções que abrem novas estradas, novos rasgos
numa paisagem que cresceu connosco. É triste perderem-se algumas das referências
que estão intimamente ligadas ao nosso crescimento, às brincadeiras, passeios,
“tropelias”. O espaço limita-se.
O crescimento da região de Azeitão tem de ser controlado, devendo-se apostar unicamente na qualidade e nunca na quantidade.
Devemos ter
sentido critico para ver o que está bem e o que está mal, melhorarmos aquilo
que nós temos, recuperar/restaurar o nosso património, dar a conhecer a nossa
história.
É altura de
cuidarmos do que é nosso, de criarmos uma força reivindicativa que nos faça
ter um lugar junto de quem decide (até sermos nós próprios a decidir o nosso
caminho).