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artigo do Dr. Fernando Porto Soares Franco
(1981) sobre o processo de fabrico:
BREVES
NOTAS SOBRE O QUEIJO DE AZEITÃO
Segundo
elementos colhidos há anos, no início do século passado na
região da Península de Setúbal, mais propriamente no «Termo
de Azeitão» só havia pequenos núcleos de ovinos leiteiros
da raça «Saloia» semelhantes aos existentes no «Termo de
Lisboa». Por volta de 1 830 Gaspar Henriques de Paiva, natural
de Monsanto, na Beira Baixa, vem para Azeitão e dedica-se à agricultura.
Mandou vir da Beira Baixa ovelhas leiteiras, de lã preta.
da raça «Bordaleira Comum» que até há poucos anos aqui formaram
rebanhos afamados. Talvez por nostalgia da sua terra natal,
todos os anos vinha de Castelo Branco um queijeiro fabricar-lhe
queijos tipo «Serra». Foi este que ensinou a um dos pastores
os segredos
do seu fabrico, que se foi transmitindo a sucessivas gerações
de queijeiros-artesãos, que deram a fama ao queijo de ovelha
de Azeitão. Os queijos inicialmente fabricados pesavam
entre 1 a 1,5 quilos como na Serra da Estrela, mas talvez
por razões de ordem comercial Frederico Franco de Paiva,
filho do Gaspar Henriques de Paiva, reduziu o tamanho e peso
para cerca de 330 gr.. a fim de que a 1 quilo correspondessem
3 queijos. Já neste século houve nova redução de peso, agora
para os 250 gr. por queijo. A estas reduções de tamanho e
peso corresponderam também pequenas alterações na técnica
de fabrico. Frederico Franco de Paiva viu coroados os esforços
para dar a conhecer o tipo de queijo que criou a partir do
Queijo da Serra. pois a fama dos seus produtos foram apreciados
e o seu êxito mereceu uma medalha na Exposição Industrial
Portuguesa - 1888, Secção Agrícola, e na da Real Associação
Central dos Agricultores Portugueses, em 1905. Há cerca de
40 anos, dada a grande procura deste queijo de ovelha, existiam
na zona da Serra da Arrábida, desde Sesimbra a Palmela e
até Setúbal, isto é, na área que corresponde ao actual Parque
Natural da Arrábida, cerca de uns 20 rebanhos com efectivos
entre as 200 e as 1000 ovelhas e a que correspondiam igual
número de unidades de fabrico de queijo, geralmente referendadas
pelo nome da Quinta onde estavam intaladas. Além destes rebanhos
de maior dimensão existiam outros mais pequenos, em geral
não excedendo as 50 cabeças e cujos donos eram tipicamente
o pastor-queijeiro, pois não eram possuidores de terras e
apascentavam as suas ovelhas em pastagens alugadas ou que
lhes eram dadas por proprietários que delas não necessitavam
a troco duns borregos. Em geral, o leite destas ovelhas era
transformado em queijo fresco e raramente no quei jo típico
de Azeitão. Por volta de 1945-48 estudos feitos sobre a técnica
de fabrico, o leite das ovelhas e os aspectos económicos,
culminaram com o projecto para instalação da «Cooperativa
dos Produtores do Queijo de Ovelha da Região de Azeitão» a
qual iria trabalhar o leite produzido pelas 5000 ovelhas
então existentes na zona da Serra da Arrábida. por ser onde
o leite de ovelha se considerava mais apropriado para o fabrico
deste tipo de queijo. Por falta de espírito associativo,
essa ideia não se chegou a concretizar embora tivessem tido
todo o apoio oficial. Em resultado das alterações que têm
sofrido desde há uns 15 anos para cá as explorações agro-pecuárias
desta região, estão hoje reduzidas a 3 as queijarias orientadas
na produção do queijo típico e todas elas situadas só em
Azeitão, as restantes, e poucas já são, fabricam só queijo
fresco, que não só é mais rentável e não tem os problemas
dum fabrico artesanal como é o queijo tradicional. Uma das
principais razões que levaram ao desaparecimento de muitos
rebanhos de ovelhas foi já não se fazerem culturas cerealíferas
na região e havendo menos recursos forrageiros para a alimentação
das ovelhas, elas desaparecem dessas explorações. Outro factor
que é com certeza o que mais importância tem no futuro do
queijo de Azeitão é a falta de queijeiros e pastores. Os
queijos de ovelha portugueses, só me refiro aos mais conhecidos,
como o Serra, o Serpa e o Azeitão, têm na realidade características
que os distinguem dos queijos espanhóis ou franceses feitos
também com leite de ovelha. Quando terminada a sua perfeita
maturação ou cura e se apresentam de «pasta mole» ou «de
correr» são excepcionais, mesmo para os melhores conhecedores
de queijos. Já li
em tempos que o queijo de ovelha de Azeitão tinha «Sabor
original e gosto um pouco selvagem a plantas aromáticas»,
não contesto esta apreciação também original. Julgo que um
dos factores que pode ajudar a distinguir estes queijos portugueses é,
no seu fabrico, a coagulação da caseína ser feita com um
extracto feito a partir da flor duma variedade de cardo que
existe expontâneo principalmente em todo o sul do nosso país.
Também o clima da zona da Serra da Arrábida e a flora das
suas pastagens têm uma influência muito marcada nas qualidades
organoléticas deste afamado queijo, pois foram verdadeiros
fracassos todas as tentativas feitas durante anos em propriedades
distanciadas poucos quilómetros desta zona de eleição em
que as pastagens eram todas elas em terras de areia do Pliocénico.
muito embora levassem para lá queijeiros daqui com bastante
prática. O processo de fabrico artesanal deste queijo pode
resumidamente descrever-se:
-
O
leite de ovelha à temperatura de 30ºc
-
O
sal dissolvido previamente no leite, em quantidades
arbitrárias para cada queijeiro (± 25 grarnas/litro).
-
Solução
de extracto de cardo preparada com antecedência
de algumas horas. em quantidade arbitrária
para cada queijeiro ( ± 0,5 gr. de flor por
quilo de leite).
-
Tempo
de coagulação cerca de 45
minutos.
-
A
coagulação
do leite é feita
em potes de barro vidrado
junto ao lume duma lareira.
-
Depois
do
leite
coagulado é a
coalhada,.
transvasada
com
cuidado
para
dentro
dum
grande
cincho
ou
trincho,
em
cima
duma
mesa
queijeira
ou
francela,
onde é trabalhada
lentamente
com
as
mãos
até se
separar
certa
quantidade
de
soro
ou
almece
da
massa.
-
Em
seguida
essa
massa
vai
encher
pequenos
cinchos
com
a
dimensão
apropriada
ao
tamanho
de
queijo
que
se
pretende
e
onde é comprimida
com
as
mãos,
com
força,
até sair
a
quantidade
de
soro
julgada
apropriada
a
uma
boa
fermentação
ou
cura
do
futuro
queijo.
-
Esses
queijos
vão
em
seguida
para
uma
casa
de
enxugo ou
sangria,
onde
estão
cerca
de
20
dias,
com
um
mínimo
de
arejamento
a
uma
temperatura
de
10º a
12º C,
e
uma
humidade
relativa
de
90
a 95%.
-
Passado
esse
tempo
os queijos
são
transferidos
para
outra casa
de
cura
ou seca
onde
sofrerão
outra
fase
de fermentação
durante
cerca
de 10
dias,
com
uma lenta
corrente
de
ar, uma
temperatura
de
12º a
15ºC.
e
uma
humidade relativa
de
85
a 90%.
-
Finalmente
são
lavados
e
preparados para
venda.
Se
tudo isto correr correctamente podemos obter um bom queijo,
mas infelizmente as instalações nas quintas, na quase totalidade,
não têm condições para um bom fabrico e basta haver uns dias
de vento ou de muita humidade e os queijos já não terão as
boas qualidades organoléticas.
A
situação descrita, felizmente, já não acontece. Os produtores
deste queijo (cerca de 10, 12) têm todas as condições de
higiene e controle de qualidade (como foi dito acima, devidamente
certificado e comprovado por uma entidade reguladora) o que
leva à contínua confiança no produto que sai para o mercado.
Alguns produtores
de queijo de Azeitão
Isidoro
Antunes Matos Fortuna
Casal dos Cantos
Quinta do Anjo
2950 Palmela
Telefone: 21 287 02 34
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Fernando de oliveira Simões
Rua El rei D. Dinis, 40
Quinta do Anjo
2950 Palmela
Telefone:
21 288 13 63/21
21 287 11 45/21
21 288 01 23 |
Vítor Carvalho Fernandes
S. Brás, CCI 8305
Quinta do anjo
2950 Palmela
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Francisco Firmino dos Reis Antunes
Rua Duque de Palmela, 43
Quinta do Anjo
2950 Palmela
Telefone: 21 287 11 23 |
Quinta de Camarate
Agrisado-Sociedade Agrícola Lda.
Rua José Augusto Coelho nº 11
2925 Azeitão
Telefone: 21 218 02 27
Fax: 21 219 15 60 |
João Bustorff Burnay
Quinta da Pena
2900 Setúbal
265 52 65 82 |
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