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Nobreza e vinhos em Azeitão
E há lá melhores motivos que estes para visitar uma terra? Em Azeitão acrescente-lhe as tortas.
Paula Oliveira Silva
2004-10-05
    in Lifecooler
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Azeitão, assim se chama, porque nesta zona existiam extensos olivais já desde os tempos em que os mouros por aqui andavam. Foi depois local de lazer muito na “moda” da corte portuguesa de Quatrocentos e centúrias seguintes.

Brejos, Vendas, Vila Fresca e Vila Nogueira, todos de Azeitão, podem confundir o visitante menos informado. Mas é no Rossio desta última localidade que se concentram os monumentos dignos de nota. Ergue-se justiceiro o pelourinho e mesmo de frente, o Paço dos Duques de Aveiro, de cujos dias de glória pouco resta, não sendo por isso visitável.
   
Ainda se mantém soberbo, embora a ruína ande muito perto. Mas dá pelo menos para perceber que é um símbolo do passado aristocrático das terras Azeitonenses. Construído no século XVII tinha brasão colocado sobre o portal nobre mas o Marquês de Pombal, todo-poderoso mandou-o retirar. Suspeitas participações do Duque de Palmela e família, os donos à altura, no conluio contra D. José...

Ainda na vizinhança está a Igreja de São Lourenço. Do primitivo templo gótico nada ficou para prova e o que hoje nos chama a atenção é uma bonita igreja com azulejos do século XVIII, talha e algumas pinturas. Muita gente de Lisboa e arredores escolhe este bonito templo para casar. O senhor padre, um homem de simpatia e conversa, mostra-lhe os cantos à casa, se preciso for. Mesmo com visita guiada, leve já de memória que um dos objectos mais antigos é a pia baptismal com apontamentos do manuelino feita de uma só peça em brecha da Arrábida. O número de baptismos que já deve ter celebrado...

Devido à sua imponência, não há como não reparar no Chafariz dos Pasmados que ganhou o nome devido à admiração que a contemplação causava. E como a fontes facilmente se associam lendas, desta e de mais umas dezenas por esse Portugal fora, conta-se que quem beber destas águas fica preso para sempre à localidade. (Lembra-se da história dos casamentos?) Nos tempos que correm, já não digo presos pela água, que até a há engarrafada, mas pelas tortas com ovos moles e canela e pelos esses de Azeitão já não ponho a minha mão no fogo.
   
Os doces e o queijo que aqui ainda se produz através de um saber antigo, são saborosas especialidades que mais do que conhecer, importa provar. Não necessariamente por esta ordem, o lanche pode ter direito a bis... As tortas mais conhecidas são as do “Cego” e casam bem quando regadas com um moscatel. Em terras de Setúbal, já cá faltava...

E vinho à mistura

Esse pode ser bebido no final da visita às Caves José Maria da Fonseca e respectivo Museu do Vinho, instalados num bonito edifício do século XIX. Logo para abrir o apetite, está a maquinaria antiga a demonstrar como as coisas evoluíram num período de 150 anos.
A Galeria de Prémios comprova o prestígio desta que é considerada a mais antiga produtora de vinhos de mesa do país e uma das maiores empresas do ramo com 800 hectares de vinha espalhados pela Península de Setúbal, Alentejo e Douro.
   
Criada a empresa em 1834, foi o seu fundador responsável por uma série de inovações nesta indústria. Um visionário que cedo se apercebeu das vantagens de comercialização do vinho em garrafas. Um verdadeiro marketeer do seu tempo ao criar ainda o conceito da marca. Vinho é vinho, mas não é todo igual. Por algumas razões de peso lhe há-de ter conferido D. Pedro V a Ordem da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito.

Momento também muito aguardado é a visita às Caves de Envelhecimento, enquadradas por um bonito e cuidado jardim. A Adega da Mata onde estagia o vinho Periquita e a dos Teares Velhos, onde repousam em cascos de madeira os moscatéis mais antigos da casa. À meia-luz, com humidade controlada por quem sabe, lá vamos andando pelos corredores delimitados por pipas e tonéis. A guia conta alguns pormenores que quando ouvidos num sítio como este nos aguçam ainda mais a imaginação. Para culminar este momento, na loja espera-nos uma prova de vinhos tinto ou branco e moscatel. Saúde!

Feitos à mão

É em Vila Fresca de Azeitão, que se situa a conhecida São Simão Arte, oficina de azulejaria cujo processo de fabrico ainda é artesanal. Esta casa tem por desafio o reviver de uma arte que desde o século XVI se começou a enraizar na tradição portuguesa. Não é só a pintura que é manual, o seu fabrico também o é. Vindo aqui pode ver como se faz, tirar dúvidas e comprar. Se foi nos últimos cinco anos a Macau vai reconhecer esta arte nos painéis que se encontram nas Portas do Cerco, encomendados pelo governo português para a comemoração da transferência de poderes para a China. Se vão longe estes azulejos...
   
Nem precisa desviar-se da estrada nacional 10 com destino a Setúbal para fazer, se assim considerar, duas paragens já em Vila Fresca de Azeitão. Uma na Quinta das Torres, casa nobre quinhentista que hoje é estalagem com restaurante e casa de chá. O lago e a pequena casa de fresco ao centro conferem uma atmosfera romântica ao local. E a outra na Quinta da Bacalhoa, velha conhecida do Lifecooler. Famosa não só pelo seu vinho mas também por albergar um importante património azulejar dos séculos XV e XVI, embora bastante danificado.

E para um dia de passeio, chega e sobra...

 

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