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Segredos de Azeitão com queijo e vinho
Gina Pereira texto
Na pacata vila de Setúbal as novas moradias coabitam com as antigas quintas que mantêm a tradição
vinícola. Sobranceira à Serra da Arrábida, no caminho de Sesimbra, mas ainda pertença do concelho de Setúbal, localiza-se a solarenga povoação de Azeitão.
Lado a lado, Vila Nogueira e Vila Fresca, em tempos sede de um concelho extinto com a reforma administrativa de 1855, partilham o nome "de Azeitão", graças aos extensos olivais que, na época árabe, dominaram aquelas paragens.
Depois, entre o século XV e o início do século XIX, Azeitão foi abundantemente procurada pela corte para zona de lazer, atraída pela caça e pesca abundantes. A confirmá-lo estão ainda hoje algumas quintas, em tempos propriedade de nobres, a maior parte delas a precisar de grandes e urgentes obras de restauro.
Património em ruínas
Em risco de ruir, está, nomeadamente, o Palácio dos Duques de Aveiro, bem no centro de Vila Nogueira, parcialmente ocupado por um serviço do Ministério da Agricultura.
Em Vila Fresca, situa-se a Quinta da Bacalhoa, paralela à Estrada Nacional 10 (EN10), considerada um dos primeiros exemplos de arquitectura renascentista em Portugal e, diz quem viu, com os mais belos jardins das redondezas.
O JN tentou, em vão, visitar o local. Embora uma chapa metálica na porta indique tratar-se de um "monumento nacional", as visitas só são autorizadas aos domingos e feriados, entre as 11 e as 13 horas.
Para quem chegue fora deste horário, aconselha-se uma visita às caves José Maria da Fonseca e aos jardins, abundantemente floridos nesta época. Para ver num passeio descansado pela vila, há ainda a Igreja de São Lourenço, com azulejos do século XVIII, e poucos metros à frente, do outro lado da rua, o recém-recuperado Chafariz dos Pasmados.
Trata-se de uma obra barroca, encimada pelas armas reais de D. José, mandada erigir pelo juiz Machado de Faria, também no século XVIII. Reza a lenda que quem beber da sua água fica para sempre ligado à vila.
Poeta Sebastião da Gama
Ligado a Azeitão, está também o nome de Sebastião da Gama, o "poeta da Arrábida", recentemente homenageado pela Câmara de Setúbal, com um museu com o seu nome, em Vila Nogueira. O poeta, amante da zona, escreveu:
"É em Azeitão a nascente que dá a beber a todos os mercados do mundo do excelente Moscatel de Setúbal".
Hoje, as vinhas coabitam com a especulação e o crescimento imobiliário. Nos últimos anos, a "Sintra da Margem Sul" tem sido procurada por muitos para morar. E apesar dos elevados preços dos terrenos, já são em grande número as moradias, nomeadamente na zona rica dos Picheleiros.
José Maria da Fonseca
É o mais conhecido produtor do Moscatel de Setúbal, natural de Nelas e instalado em Vila Nogueira desde 1830. A fama do seu vinho chega aos quatro cantos do Mundo e, também por isso, a família decidiu abrir aos visitantes as portas da sua casa-museu, uma obra do arquitecto Ernesto Korrodi, situada na principal rua da vila. As visitas são guiadas e têm lugar de manhã, até ao meio-dia, e das 14 às 17 horas. Fica a conhecer-se a história da família, através dos prémios e medalhas recebidas ao longo de anos, fotografias de visitantes ilustres e peças de interesse para a arqueologia industrial.
Nas actuais instalações da fábrica J.P., na Nacional 10, está situada uma das linhas de engarrafamento da produção José Maria da Fonseca. Lado a lado com as centenas de barris, há painéis de azulejos em exposição.
Que delícias
as tortas
de ovos !!!
Dizem que as melhores são as do "Cego" mas, em Azeitão, não é difícil encontrar sítio onde provar as famosas tortas de ovos moles e canela. Também há os queijinhos de ovos, bem mais doces, ou, para quem não tolera gulodices, resta a feliz possibilidade de provar o verdadeiro queijo de Azeitão.
De tamanho pequeno, este é provavelmente o queijo mais caro produzido em Portugal e, em fama, só ultrapassável pelo queijo da serra da Estrela. De casca fina e textura amanteigada, é feito com leite de ovelha e resulta do escoamento lento da coalhada, após coagulação do leite cru com flor de cardo.
In JORNAL DE NOTÍCIAS, 15 de Julho de 1999
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A beleza singular da serra da Arrábida
Gina Pereira texto
Um convento franciscano, de 1542, plenamente integrado na vegetação mediterrânica, também faz parte do Parque Natural
Ao longo do litoral entre Setúbal e Sesimbra, estende-se a Serra da Arrábida, com cerca de 500 metros de altitude e uma fascinante vista sobre as águas claras do oceano. O solo e um clima extremamente ameno, considerado um dos melhores de Portugal, favoreceram a formação de espécies raras de vegetação mediterrânica, para as quais contribuiu também o relevo da serra e a proximidade do mar.
A necessidade de preservar um património tão "sui generis" motivou, em 1976, a criação do Parque Natural da Arrábida. Uma classificação que abrange dez mil e 800 metros quadrados de área verde e que se prolonga por 35 quilómetros de costa. Mal integrada na paisagem, está uma fábrica cimenteira. Uma autêntica ferida da serra que causa arrepio à vista.
Se fecharmos os olhos a este atentado, um passeio relaxado pela Arrábida é do melhor que há para espairecer do lufa-lufa diário.
Descansar a vista
Aconselha-se vivamente uma paragem em cada um dos recantos da estrada, onde se descobrem excelentes vistas sobre a praia. E um olhar demorado sobre o verde denso da vegetação é excelente para o descanso da vista.
Por entre curvas e contracurvas, surgem, na escarpa da serra, pequenas guaritas construídas pelas mãos de frades franciscanos, entre eles Frei Martinho, a quem D. João de Lencastre ofereceu a Serra da Arrábida, em 1539.
Aspirando à meditação e recolhimento, os frades ali viveram isolados, em pequenas celas que ainda são visiveís na encosta, e que compõem o chamado "convento velho". Lado a lado com as celas, situam-se pequenas ermidas onde os franciscanos se recolhiam em penitência e oração.
O convento novo
Em 1542, uma nova construção começou a ser edificada. O "convento novo", caiado de branco, parece plantado na encosta, tanta é a harmonia do espaço com a natureza. Um agrupamento de pequenas celas, uma igreja, capelas, pátios, corredores, refeitório e cozinha serviram, até 1843, os monges, altura em que foram extintas as ordens religiosas em Portugal. Uma "mini-cidade concentrada" que, pela sua importância e originalidade, foi, em 1977, classificada de interesse público.
Curiosidades
O filme "O Convento", de Manoel Oliveira, foi rodado no cenário paradisíaco do Convento da Arrábida.
Um espaço que, certamente, encantou os actores Catherine Deneuve e John Malkovitch, que tiveram a seu cargo os principais papeis do filme. Se quiser visitar o cenário e cruzar os mesmos caminhos que os famosos actores, não perca tempo. Contacte com a Fundação Oriente para uma marcação prévia e não desista do intuito, mesmo que demore algum tempo a obter a resposta. Asserguramos-lhe que a espera vale mesmo a pena!
In JORNAL DE NOTÍCIAS, 22 de Agosto de 1998
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