transcrição
de uma publicação de 1939 - por José Albino
Mata Coberta
Seguindo-se o caminho velho do Bom Jesus para Azeitão, por
El-Carmen, próximo ao Convento Velho, está a Mata Coberta.
Ao norte ficam-lhe os
rochedos da encosta que
vai ao Alto do Formosinho, ao sul estende-se até ao Monte Abrahão,
pelo nascente fica-lhe a Mata de S. Paulo e ao poente a ladeira do
Carolo.
Esta formosa mata
descreveu-a o erudito Joaquim Rasteiro, em artigo publicado no
folheto «Arrábida», publicação comemorativa da festividade
celebrada pelo antigo Círio de Setúbal, em 1896.
Eis a transcrição: «A
Mata Coberta não tem rival na espessura dos arvoredos, na corpulência
dos medronheiros, no viço da ramagem, na multiplicidade das cores,
na viveza do colorido, na frescura das sombras, na delicia das árvores...
A folhagem caduca forma um leite fofo capaz, para um exército de
afadigados, para um mundo de preguiçosos.
Todos os antigos
habitantes do Mosteiro de Alcobaça, todos os claustrais do Terreiro
do Paço ali achariam mole e folgado colchão.
(...)
Quem ainda não viu
aquela mata, mal pode julgar da sua extraordinária beleza... Olhada
dos rochedos que lhe estão sobranceiros, é um tapete de alta
felpa, cuidadosamente tecido e finamente bordado. Sobre um chão de
verdes variados, cambiando-se, como se a mão de um artista de
apurado gosto tivesse entrado na composição das cores, a flor
ligeiramente rosada do folhado, o vermelho e o alaranjado do
medronheiro, o branco da madresilva, ou da rosa silvestre, matisam
da maneira mais artística aquele estofo, que teve por tear a
montanha, por artífice a natureza.
Quem penetrar na mata há-de
confessar que nunca encontrou abrigo mais confortável, cobertura
mais impermeável; há séculos que o sol vãmente se esforça por
penetrá-la e nem um raio da sua luz finíssima e viva ali conseguiu
entrar. Assim Deus a criou e a mata, como se tivesse o instinto da
própria conservação, tem-se precavido contra os incêndios,
estiolando até à morte as plantas rasteiras.»
Mata
e vale do Solitário
A mata desce do Monte Abrahão e sobe aos rochedos da serra
da Boa Vida.
Passa ali a estrada que
do alto do Jaspe conduz à Lapa de santa Margarida e ao Portinho.
Próximo do chafariz do
Solitário vêm-se ainda restos de uma pequena habitação, que
houve junto a uma ermida, a da Soledade, que serviu a moradia a um
mimorista que ali viveu largos anos. Ocupava-se em fazer pequenas
imagens e com o produto da sua venda se alimentava e conservava a
sua habitação. Ficou para sempre ignorado o seu nome e daí a
origem da denominação «Vale do Solitário».
Um outro solitário
habitou a ermida de S. Paulo, nunca dizendo o seu nome, sendo apenas
conhecido depois da sua morte no hospital da Misericórdia de Setúbal.
Chamava-se Francisco das Chagas.
Mata
do Vidal ou da Mourinha
Junto à serra da Cabeça Gorda. Era um antigo caminho para Azeitão.
Passa ao desfiladeiro conhecido pela «Confeitaria», à ribeira do
Lobo, à cadeira de S. Pedro de Alcântara, ponto em que o santo
costumava descansar.
Perto fica a rocha conhecida por Jogo ou Castelo dos Mouros,
por a sua configuração de longe parecer uma fortaleza.
No vale a seguir , a
caminho de Azeitão, encontra-se o Penhasco da Velha, cuja raiz se
assemelha a uma manjedoura e mais longe a fonte de S. Caetano e o
Painice com várias imagens em azulejo. A mata é frondosa.
Mata de S. João do Deserto
Perto do Bom Jesus, era, pelo vale, o antigo caminho para o alto do
Formosinho. Quase no cimo, á esquerda, existem restos da ermida de
S. João do Deserto e de Alegrete, onde os seus habitantes plantavam
várias flores.
Os
frades, na tarde de 24 de Junho, iam ali festejar o orago.
Pequenas Matas
Mata
de Nossa Senhora – fica no velho caminho do Portinho para o
Convento.
Mata
do Bom Jesus – junta à capela do Bom Jesus.
Vale da Vitória
Vulgarmente conhecido por Chão ou Campo da Freira, é atravessado
pelo antigo caminho do Calhariz.
Neste vale é tradição
que D. Afonso Henriques deu batalha contra os infiéis a após ela
tomou o castelo e a vila de Sesimbra.
Na ladeira do Caminho,
ao descer, encontra-se uma grande pedra que está fora do caminho e
representa, embora toscamente, uma cabeça de elefante.
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