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GEOLOGIA - Considerações finais

  
    
 
  

Considerações finais sobre a geologia da Arrábida

As principais conclusões que se retiram do estudo tectónico e paleogeográfico da Arrábida são:

1)                       A existência de 2 sistemas de falhas normais durante as fases distensivas Mesozóicas orientadas aproximadamente N-S e E-W. As primeiras, mais importantes, foram reactivadas como rampas laterais durante a inversão tectónica do Miocénico; as segundas, provavelmente rampas laterais extensionais durante o Mesozóico, foram, na inversão miocénica, reactivadas como cavalgamentos.

2)                       A estruturação herdada das fases distensivas promoveu uma importante compartimentalização da região, a qual influenciou significativamente quer a localização dos principais acidentes tectónicamente  activos durante a deformação compressiva da fase de inversão, quer o estilo da inversão, muito dependente da localização da região, junto aos bordos estruturais da Bacia Lusitaniana.

3)                       Verificou-se que os movimentos do soco durante a inversão foram relativamente importantes, ou seja, o estilo da inversão nesta região, é o resultado da combinação de deformação thick skinned e deformação peculiar, como sugere Coward (1996) reinterpretando estruturas de inversão noutras bacias.

4)                       Estimou-se o encurtamento (e = 35%, seg. Ramsay, 1967) paralelamente à direcção compressiva horizontal máxima, no segmento deformado, de aproximadamente 10km, entre Quinta do Anjo, a norte (loose line) e Albarquel a sul (pin point), no sector leste da cadeia da Arrábida, atravessando as estruturas da Serra de S. Luís e do Viso. Se considerarmos o compartimento da Bacia Lusitaniana limitado a sul pela cadeia da Arrábida e a norte pela estrutura de Sintra, assumindo que a deformação produzida pela inversão Miocénica está practicamente concentrada na cadeia da Arrábida, o encurtamento estimado para o interior deste compartimento é e = 6%, valor idêntico ao estimado para o compartimento limitado pelas falhas do Arrife e da Nazaré.

5)                       Concluiu-se que  o cavalgamento da Serra de S. Luís reactivou uma falha normal do Malm.

6)                       A análise das estruturas do Mapa Tectónico em conjunto com dados geofísicos (Silva et al., in prep) contribuiu para a determinação da profundidade do nível de descolamento sob a cadeia, no complexo evaporítico Hetangiano (» 3.5 km a N e 2.2 km a S).

7)                       A existência de constricção fica demonstrada por: 1) desenvolvimento de 3 cavalgamentos imbricados em sequência retrogradante, 2) rotação do anticlinal do Viso, 3) presença de estruturas de escape vertical de que é exemplo a dobra quase em bainha do anticlinal do Viso.

A geometria  elegante e simples da cadeia da Arrábida deve-se à existência de apenas um nível de descolamento ou, pelo menos, de um nível principal de descolamento – o complexo evaporítico Hetangiano – estratigraficamente localizado muito próximo da interface soco/cobertura. A tectónica peculiar observada é apenas responsável pela translacção da cobertura e dobramentos gerados durante a propagação dos cavalgamentos, não causando complexação estrutural da cadeia. Por outro lado, a cinemática de desligamento esquerdo ao longo das falhas NNE-SSW a N-S resulta das condições de fronteira do bloco da Arrábida e do indentador tectónico de Lisboa (Fig. 17).

Fig. 17 - Esquema geral do indentador tectónico de Lisboa. DPN - Diapiro de Pinhal Novo (não aflorante); DS - Diapiro de Sesimbra. As setas onduladas indicam provável migração de evaporitos.

As estruturas do sector leste da cadeia foram acentuadas pela actividade do indentador tectónico de Lisboa, que contribuiu para a remobilização da camada evaporitica hetangiana, localizada no limite soco/cobertura da Bacia Lusitaniana; esta remobilização promoveu o escape de material da camada evaporítica obliquamente á direcção de máximo encurtamento da cadeia, alimentando o diapiro de Pinhal Novo, localizado a N de Setúbal, na falha Setúbal-Pinhal Novo.

A comparação da geometria das estruturas de deformação localizadas a tecto e a muro das rampas frontais salienta forte contraste entre elas. Os sinclinais a muro, com flancos inversos bem marcados estão bem desenvolvidos enquanto os equivalentes anticlinais a tecto das rampas cavalgantes são dobras muito amplas, com flancos inversos ausentes ou mal desenvolvidos. Estas características indicam que estas estruturas compressivas são dobras produzidas em consequência da movimentação cavalgante nas rampas frontais (fault propagation folds), contrariamente ao modelo clássico segundo o qual as primeiras estruturas a formarem-se são as dobras, as quais serão posteriormente recortadas pelo desenvolvimento de falhas inversas nos seus flancos curtos.

A maior deformação constritiva observada no Viso, comparada à deformação do anticlinal da Serra de S. Luís é uma boa evidência estrutural para a retro-migração das rampas frontais que definem a estrutura imbricada deste sector da Cadeia da Arrábida (piggyback structure), como tinha sido proposto por Ribeiro et al. (1990) com base nas evidências estratigráficas.

Esta retro-migração das rampas cavalgantes foi muito provavelmente induzida pela existência, a sul da cadeia, de um bloco constituído por um horst de soco orientado E-W/ENE-WSW, que terá actuado como barreira de resistência à sequência sedimentar durante a compressão. A presença deste horst de soco é corroborada por sondagem profunda (Golfinho 1) que atingiu o soco 1700 m abaixo do nível do mar, a sul da Cadeia da Arrábida, enquanto na estrutura da Serra de S. Luís o soco está a cerca de 3 km.

O sector oriental da Cadeia da Arrábida define uma estrutura imbricada 3D (Fig. 18), formada por cavalgamentos sobrepostos de direcção ENE-WSW vergentes para S e rampas laterais esquerdas oblíquas aos cavalgamentos, orientadas segundo NNE-SSW a N-S.

A conexão entre as rampas laterais e frontais neste sector da Cadeia da Arrábida é semi-dúctil, isto é, os cavalgamentos orientam-se perpendicularmente às rampas laterais longe delas, e fundem-se gradualmente nas rampas laterais à medida que delas se aproximam (Fig. 3a). Assim se definem os duplexes representados no Mapa Tectónico.

Fig. 18 - Bloco diagrama ilustrando a geometria do duplex do Formosinho-Viso.

 

 

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