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A capela/ermida de Nossa
Senhora da Arrábida e a sua lenda |
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Na
guerra contra os Sarracenos, foram os primeiros reis de Portugal muito
auxiliados
por freires cavaleiros das Ordens do Templo, do Hospital e de Sant'Iago.
A estas Ordens, nomeadamente à de Sant'Iago, fundada em Castela em 1170, foram
doadas, tanto por D. Afonso Henriques como, depois, pelos seus sucessores,
numerosas terras ao sul do Tejo e em outras regiões.
Entretanto,
a instituição tomou-se uma Ordem portuguesa, independente da castelhana, em
virtude de o rei D. Dinis ter conseguido que o Papa Nicolau IV promulgasse, em
1288, uma bula que autorizava esta separação. 0 mesmo monarca criou em 1323 o
concelho de Sesimbra, ao qual o limite de Azeitão e a serra da Arrábida
passaram a pertencer, de início incluídos na freguesia de Santa Maria do
Castelo de Sesimbra e, a partir de 1350 (era de 1388), constituindo a freguesia
de São Lourenço.
Sob
a presidência do mestre português D. Pedro Escacho, os freires de Sant'Iago,
em reunião efectuada a 27 de Maio de 1327 (era de 1365), no Convento de
Santos-o-Velho, fizeram uma «ordenação» segundo a qual dividiram os bens da
instituição em comendas, entre as quais figurava a de Santa Maria da Arrábida.
Os seus limites eram «a sul o mar, a nascente a Comenda e Concelho de Palmela
numa linha de Galapos à serra de S. Francisco, ao norte o cume dos montes de
Azeitão, partindo com a Comenda de Sesimbra e, a poente, esta última Comenda,
dirigindo-se do Porto Velho ao Risco».
Existia
nessa época na serra da Arrábida uma ermida a que acorriam muitos devotos,
pelo que, em 1327, quando se demarcaram as comendas, foi estipulado: «na Arrábida
haja comendador e tenha um capelão freire que sirva em essa igreja
continuadamente e nas horas» e «haja todo o dia quatrocentas livras da comenda
de Almada para esses encargos».
A
origem da capela permanecia, contudo, envolta num denso mistério, e talvez por
esse facto tenha nascido uma lenda.
A
Lenda
Conta-se
que, por volta de 1215, um abastado mercador inglês, Hildebrant, deixara a pátria
à procura de lucros mais avultados que os que ela lhe proporcionava. Reduziu os
seus bens a dinheiro e partiu para Portugal. Trazia a bordo, numa câmara
especial, uma imagem de pedra de Nossa Senhora, de quem era muito devoto e que
na sua família passara de pais para filhos, sendo considerada a mesma que os
religiosos da Ordem de S. Bento
adoraram, no reino de Inglaterra, quando foram
mandados doutriná-lo.
Próximo
de Lisboa, durante a noite, uma tempestade imprevista atirou-o para além do
cabo Espichel e, em frente da praia de Alportuche, viu-se perdido no rigor da
tormenta. Implorou então a protecção de Nossa Senhora e, nesse momento, uma
luz vivíssima rasgou o negrume da noite, ao mesmo tempo que o temporal
amainava. Hildebrant procurou agradecer a protecção recebida mas verificou que
a imagem não se encontrava no navio. Entretanto amanheceu. Os marinheiros
desembarcaram e foram procurar o sítio de onde, na serra, brilhara a luz
salvadora, tendo encontrado a imagem que na véspera desaparecera do
navio.
Hildebrant resolveu construir uma ermida e uma casa
que lhe servisse de habitação nesse local e prometeu dedicar os seus dias a
amar e servir Nossa Senhora na montanha onde a sua protecção não fora
invocada em vão. Distribuiu parte dos seus bens pelos outros membros da tripulação
do navio e pediu-lhes que todos os anos viessem, em romaria, à serra da Arrábida,
visitar o local onde passara a viver. Atribuiu-se a este facto a origem do círio
dos saloios de Alcântara, que durou até ao século passado.
Mais
tarde erigiu, ali mesmo, Hildebrant um convento da mesma Ordem do nosso
Patriarca Santo Agostinho, com licença do Bispo de Lisboa, que era naquele
tempo D. Sueiro Viegas, o qual confirmou D. Bartolomeu, companheiro de
Hildebrant, no lugar de prior, como consta de uma escritura que se conserva no
arquivo da igreja catedral da mesma cidade de, Lisboa, feita pelos anos de 1288.
0 incêndio
que se seguiu ao terramoto de 1755 destruiu todos os documentos que existiam no
arquivo da Sé de Lisboa, impedindo que se pudessem comprovar as afirmações
feitas pelo autor do Santuário Mariano.
Há
quem admita, ainda, que a instituição religiosa fundada por Hildebrant tivesse
seguido o exemplo do que S. Donato estabeleceu em Espanha, vivendo dispersa pela
montanha, em casas humildes, entregando-se em plena liberdade à oração e ao
trabalho. A congregação estava sujeita, no entanto, ao prelado diocesano e
seguia as regras de Sto. Agostinho. Não há, contudo, qualquer documento que
fundamente esta suposição.
Entretanto, Setúbal teve foral em 1249 e, em 1343,
dada a importância que a vila adquiriu, o Mestre da Ordem de Sant'Iago
demarcou-lhe um termo próprio. Por essa época, Azeitão tomara-se conhecida
por ser o lugar de veraneio preferido pela melhor nobreza do Reino, entre a qual
se contavam os infantes D. Constança e D. Pedro, futuros herdeiros da Coroa. A
presença da infanta teve como consequências a construção de uma igreja na
localidade no século XIV, a desanexação do limite de Azeitão da freguesia de
Santa Maria do Castelo de Sesimbra e a concessão de vários privilégios aos
seus moradores pelos reis D. Pedro I e D. Fernando.
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